segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Fim do Cunhão Trincado

Depois de 56 postagens (com cerca de 70 comentários), o Cunhão Trincado se despede dos seus leitores! Uma acertada decisão motivou o Velho da Montanha e chefe desta redação, que, da sua choupana, despachava expedientes com o fito de aliviar as dores do seu eterno caritó. Hoje, o amargoso jiló do isolamento é uma doce companheira.
Vai se matar só por causa disso? Calma!
Um novo espaço foi criado, e todo o conteúdo deste blog foi migrado para lá. A partir de agora, o Sertão de verso assume o papel de desvelar tudo aquilo que há por trás das sístoles e diástoles de um coração pujante.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Partira sozinho, tropeçando em seus próprios pensamentos...

Almoçava e assistia o dvd “Maricotinha”, de Maria Betânia. Entre uma música e outra, algumas poesias. Todo aquele conjunto harmonioso ("de cores e sabores", completaria Sandra Anemberg, no Jornal Hoje) fazia-me plainar do chão, numa ascensão alucinógenamente embriagativa.

Partira sozinho, tropeçando em seus próprios pensamentos...

Até o momento em que senti a minh'alma, numa desenvoltura olímpica, dando um duplo twist carpado – a la Daiane dos Santos, retornar ao meu corpo. Tal enlevo fora interrompido por uma indagação (inoportuna) da Dona Elza:

- Aff, tu gosta de desse agouro?

Joguei “agouro” no google do meu cérebro e, depois de 2 longos segundos, acionei o mecanismo facial que expressa o sorriso amarelo.

Partira sozinho, tropeçando em seus próprios pensamentos...

Desde então esse mote não me sai da cabeça. Ainda hei de desenvolvê-lo, quem sabe no próximo post. Depois da ultima garfada, parti sozinho, tropeçando em meus próprios pensamentos.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Do elogio

Cena 1: Depois de encontrá-la pela terceira e já com a intimidade de abraçar, disse: “Como sua pele é macia”. Havia percebido aquilo antes mesmo de tocá-la. A moça fingiu não entender, e aí pairou a dúvida de repetir ou não o elogio, mas, sem medo de parecer um completo idiota, disse novamente. Ela então deslizou sua mão pelo braço e disse com desdém: “E é por que saí tão apressada de casa que nem passei hidratante”

Cena 2: Festa de aniversário de uma amiga, que, de tão bela num vestido florido, tive que pontuar: “Você tá linda, nota 10, parabéns pelo aniversário e pelo vestido”. Não foi preciso repetir o elogio dessa vez, ela ouviu em alto e bom som, bem como os demais presentes, mas a reação já era aquela esperada: “Vixe, esse vestido é antigo demais, relutei muito para usá-lo hoje”.

Cena 3: Antes da missa e, depois de um cordial cumprimento, disse: “Como seu cabelo fico lindo com esse novo corte”. Ela respondeu imediatamente: “Aff, ele tá sujo e eu nem escovei antes de vir pra cá”.

Que danado é isso? Por que mulher não sabe receber elogio? Tem sempre que dar uma explicação. Como se não o merecesse, e precisasse de uma justificativa para estar ou ser bonita. Como se procurasse algum detalhe que lhe diminuísse o valor. Ou então, é o contrário. Uma tentativa – inconsciente, talvez – de se valorizar. Como se dissesse: “Meus cabelos são bonitos mesmo sem escova”. “Meu vestido é antiquíssimo e eu fico linda nele”. “Eu nem passei hidratante, mas veja como sou macia”. Não sei o que é pior.

As pessoas elogiam por vários motivos. Para lisonjear. Por interesse. Porque têm a expectativa do agradecimento – querem atenção, então dão atenção. Ou para registrar uma opinião ou impressão. Eu elogio porque acho a coisa ou a atitude bonita, e penso que a pessoa gostará de saber disso. Simples assim. Coisa mais feia recusar elogio.

Cena 4. Tirei o cartão do bolso, ia pagar minhas compras. A moça do caixa usava um anel que era luxo só. Grudei os olhos nele, suspirei… e pedi: “Débito, por favor.”

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Saga estóica

O novo vídeo da Cunhão Trincado Interprise, sob o título Saga estóica, apresenta a epopéica saga do Velho da Montanha nos tempos de outrora, quando ainda possuia a relutância peculiar e a resistência impávida. Sob a trilha sonora de Coldplay - Strawberry Swing, sigamos nosso herói nessa aventura de tirar o folêgo, e guardemos na lembrança o tempo em que ele podia realizar tamanhas proezas, porque hoje, em sua choupana, ele sequer dispõe de forças de ir até o mar pra ver o seu amor morrer na praia. Confiram!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Levitar

Descobri essa música ontem, e vi que ela trás um desejo bom de levitar e sair rasgando o céu, principalmente agora na iminência das férias. Oh, minha Teresina, dona de uma tarde que me arde, sonho com tuas noites serenas! Elevai-me bem mais alto, oh cidade verde, inebriado pelo dulçor da tua cajuína, conto os dias que faltam para findar esse exílio. Quando eu chegar na Frei Serafim, meu amor, acene pra mim!



Levitar - Circuladô de Fulô
Que amor é esse menina
Que voa mais alto feito balão num céu de anil
Pintado em noites de São João
Não vá me dizer oh criança
Que não sabe dançar essa dança
Nessa noite tão linda
Que jurei o meu amor
Passa o tempo que for
Vou ser teu amigo
Passa o tempo que for
Vou ser teu irmão
Será que é sonho ou realidade
Não sei não
Mas agora eu vou

Levitar, levitar
Vou voando te encontrar
Levitar, levitar
Nos meus sonhos vou te amar

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Será que os sentidos fazem sentido?

Quem já não foi arrebatado por alguma visão de tirar o fôlego? Ou ascendeu aos céus após sentir a fragrância nostálgica do grande amor? Quem não viajou no tempo e no espaço ao ouvir aquela música marcante, e por isso dilacerante? E o tempero da mamãe? E a maciez do velho lençol fininho?

O corpo, com seus segmentos sensoriais, assume papel indispensável no processo do conhecimento de si-próprio e da realidade ao redor, contrariando Descartes que dava ao pensar toda excelência, como se só o cogito bastasse.

A base do nosso conhecimento racional não é racional, já que começa através das sensações corporais.

É bem simples de entender: o corpo informa os dados dos objetos e sensações ao entendimento (cérebro). Assim, em vez da razão definir sozinha, ela se torna dependente das informações do corpo.

Nossas escolhas e atitudes são delineadas pelo que nos trará mais prazer, a partir de satisfações já experienciadas.

A porta de entrada dos prazeres são os sentidos. O tédio e o sofrimento surgem na ausência do prazer, ou quando não dispomos de meios para atingi-los. Suas raízes surgem quando a pessoa em si (ou fora de si) deseja repetir situações de prazer, mas se vê privada pela razão, compreendendo que uma escolha aqui ensejará numa merda acolá.

Já fiz muitas besteiras a mando e por desmandos do meu Eu-lírico. O meu Eu-lírico é dado aos prazeres desordenados que os sentidos proporcionam. Já o meu Eu-empírico, educado por Kant, é mais cauteloso; encontrando prazer na renuncia de circunstancias de prazer.

Que sentido tem os sentidos? Eles existem para que sejamos senhores, e não meros escravos deles. Nossos sentidos ficam pentelhado nosso querer na intensidade proporcional da inviabilidade, dificuldade, impossibilidade do objeto desejado. Como sair dessa “sinuca de bico”? Mas pra quê sair? Vá, deseje aquilo que trás sua satisfação. Deseje com moderação!

O sentido dos sentidos reside na VONTADE, essa força interior é sentida tanto no poder de certos desejos como na aptidão para dominá-los.

A vontade é o elemento fundamental que trás o sentido das coisas e do mundo. Schopenhauer ensina que é na união entre o corpo e o sentimento que está a essência metafísica elementar: a vontade de viver.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Êxtase, santidade, consumo e otras cositas más

Ao se aproximar o fim do ano, e com ele as suas festas, uma áurea angélica toma conta de todos nós. Ôpa, peraê! Pra cima de moir, não! Longe de mim cair na onda do “espírito natalino”.
O que na verdade me ocorre é um deslumbramento com a festa do Natal do Senhor. A Igreja, com sua tradição, nos insere numa caminhada chamada Advento. Nesse tempo de espera sinto-me observante e fundamentalista, propenso à anêmicas aspirações de santidade (uma pena ficar apenas em aspirações), mas consciente de que o simples desejo de amar já é amor.
Sim, sinto santos desejos de santidade. Santo é um amigo de Deus, aquele que faz a experiência do Amor. O êxtase que os santo prova lhe dá o respaldo necessário para falar aos demais, ainda que de forma imperfeita, o quão suave e agradável é viver nesse ÊXTASE. Os gregos já davam esse nome ao estado daquele que se transporta para fora de si, criando, assim, um vazio a ser ocupado por Apolo ou por Dionísio.
Não é preciso ser santo para experimentar, pelo menos em parte, a sensação do êxtase (sei lá, nunca fui santo, mas desconfio ser um chatice esse extasis beatifictus, uma coisa muito sem graça). No geral, todos tivemos momentos semelhantes, alcançados sob a influência do vinho, ou durante os instantes de grande alegria, ou no encantamento provocado pelo amor. Há pessoas que entram em êxtase quando estão nas compras, consumindo desenfreadamente, tudo em nome do bendito "espírito natalino" .
Perceba, vivemos em meio a desejos soltos. Estamos sempre desejando as coisas, queremos ser, queremos ter, desejamos isso, desejamos aquilo. Isso pode gerar uma patologia séria, cuidado! Na antiguidade, aquele que havia aprendido a controlar seus desejos era considerando santo. Hoje em dia muitos veriam nele uma pessoa conformada e sem ambição, como uma cabra (veja o semblante de uma cabra, não há ambição alguma).
É aqui onde queria chegar: aquele que se deixa levar por seus desejos não é um homem livre, nem tão pouco feliz, pelo simples fato de estar sempre insatisfeito. Numa visão epicurista, um homem feliz é aquele que aprendeu a não ser escravo de seus desejos. A relação com nossos próprios desejos é muito complexa. A insatisfação desses desejos pode gerar frustração e até dor.
Nesse fim de ano é prudente frear certos impulsos e dá vazão a outros. Faça sua escolha. Eu fiz a minha: ser cabra!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Paráfrase de Habacuque 3, 17-18

Embora a seca seque fontes e rios
E os campos fiquem esturricados
E o gado morra de sede e fome
E as queimadas devorem os pastos
E os machados transformem florestas verdes em desertos áridos
E os palácios estejam cheios de corruptos
A despeito disso minha alegria continuará a florir
E farei poemas diante do Impossível.

sábado, 7 de novembro de 2009

Na iminência de “nuvens negras” pousarem sobre minha cabeça, trazendo consigo as tempestades já dantes conhecidas, procuro abrigo nas linhas que um certo monge americano deixou escrito. Em Na liberdade da solidão, Thomas Merton diz que sempre existirão contradições na alma do homem. Entretanto, estas só se tornam um problema constante e sem solução quando preferimos a análise ao silêncio. Não nos cabe resolver todas as contradições, e sim viver com elas e nos elevarmos acima delas, e considerá-las à luz de valores externos e objetivos que, por comparação, as tornam triviais.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

a vida é uma vida só
a vida é uma ávida
a vida é uma ave
a vida é uma
só uma

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Recesso de mim

um eu

com pretensões estáticas

resolve parar


com o fito de filtrar a vida

por entre os grãos

de ampulhetas mortais


com o olhar detido

nas divagações do meu imaginário

vou tirar férias de mim


fadigado e farto

estou saindo de cena

vou atrás do que vejo à frente


desapegado de antigas certezas

seguirei com relutância

vencendo-me secretamente

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

“Não rezamos por rezar, mas para sermos ouvidos. Não rezamos para ouvir-nos rezando, mas para que Deus possa nos ouvir e responder. E não rezamos para receber qualquer resposta: tem de ser a resposta de Deus.”

Na liberdade da solidão, de Thomas Merton
(Editora Vozes, Petrópolis), 2001. p. 81

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

poetadanadodeentender

Nisto reside a tragédia do poeta: a sensação de baixeza da queda lhe é tão necessária, como forma incontida de auto-punição, que, só através da poesia, ele consegue o soerguimento, como numa alquimia de sentimentos, montanha russa de dualidades.
Há neófitos se achando iniciados nesta bela arte, que, com discursos verborrágicos, abusam da dialética em momentos cruciais em que a situação pede clareza nas ideias.

"pra eu morrer por ela
só falta eu perder a vida"

Consideremos por um momento àqueles que se acham poetas (sem o ser), no fundo eles querem ser compreendidos, querem transmitir realidades nítidas e bem definidas que a linguagem coloquial não consegue expressar.

(os versinhos bobos que aparecem nesta postagem sao meramente ilustrativos, possui mais sonoridade que sentido - ou não!)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Do amor e da necessidade

Depois de alguns dias alhures, retorno a esta redação impregnado de uma atmosfera potencialmente ferina. Entre encontros e desencontros, com partidas e chegadas, na lucidez e nas precipitações, este Sherlock Homes existencial sente-se na obrigação, até como forma de complementar a postagem anterior, de tecer algumas considerações acerca desses dois sentimentos confundidíssimo deveras: AMOR E NECESSIDADE.
Mesmo sem a experiência de um Baudelaire, atesto que o amor não é uma mera troca de necessidades. Esta seria sua forma ilusória. Uma espécie de pacto secreto e inconsciente entre as pessoas faz parecer amor o que é momentaneamente troca de necessidades. As carências são tantas e tão grandes, que a satisfação delas surge disfarçadas de amor. Mas que amor não é. É um troca de necessidade.
O Globo Repórter disse na ultima sexta-feira que somos a máquina mais perfeita e cheia de detalhes já criada. A complexidade é tamanha que chega a atingir outros campos não corpóreos, e é nesses que quero me deter. Matizes culturais e rizomas psicológicos são responsáveis por individualismo de sobrevivência: primeiro atendo as minhas necessidades para depois ver o que o outro precisa. É uma força tão poderosa que, quando envereda pela via sentimental, quase sempre vem carregada de afeto (o mesmo afeto que é um dos componentes do amor), e por isso é confundida com o amor.
Passada a necessidade, as pessoas se deparam com o que são e com o que sentem, e, às vezes, descobre que o sentimento que havia não passava de atração, gratidão, respeito, segurança, bem-estar, conforto, status, medo das opiniões, pressão familiar, espírito aventureiro, ânsia de sair de casa, ou, até mesmo, apego ao sofrimento... várias coisas importantes, necessidades válidas, porém não amor.
Amor: intrincamento tamanho na nossa inteligência emocional que podemos até confundi-lo com a necessidade de sentir amor.
Com o passar do tempo vamos entrando na onda de achar que somos as nossas necessidades. Conseqüência disso é o de fixarmos certos rótulos para certas pessoas, achando-as estúpidas, mesquinhas, egocêntricas, como se estas substituísse o próprio umbigo pelo sol na teoria de Copérnico.
Artur da Távola diz que as nossas características são uma espécie de sintoma das nossas necessidades. Mas a gente vai achando que essas necessidades são a gente, de fato, e que explica-nos. Não! As nossas características não são sintomas das nossas necessidades.
Tomemos como exemplo este escriba: quem o conhece bem (há quem o conheça até demais) sabe que sua patologia atinge o nível 8 na Escala Richter (que vai até 9) no que se refere aos sentimentos que circundam a região do miocárdio. Cativo no exílio da Carenciolândia, vivendo num deserto de afetos, vem sofrendo no varejo para atender parcialmente suas necessidades mais latentes. Focar o problema deste miserável é lançar um olhar puramente situacional. Ele não é essas necessidades que o atormentam.
Daí saber, durante a vigência de um sentimento, se é amor ou se é clamor de alguma necessidade, é algo de uma dificulidade enorme.
A diferença reside no seguinte, e aqui eu concluo meu pensamento: a gente não sabe quando é necessidade, mas quando é amor sempre se sabe. Porque o amor resiste a todas as besteiras que fazemos com ele. O amor resiste até à nossa incapacidade de alimentá-lo. Já a necessidade uma vez satisfeita, ela se acaba.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Do amor ao próximo

Desde que conclui a leitura de Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévisk, senti-me impelido em deixar aqui no Cunhão algumas impressões acerca desta obra de grande magnitude para a literatura internacional.
Vários enfoques poderiam ser dados: o parricídio (morte de Fiódor Karamázov por um dos seus filhos); a santidade de Aliócha e seu imbuído e precoce amor ao ser humano; ou a erudição de Ivan nos campos da história, filosofia, literatura e religião. Vou restringir todo o arcabouço do livro e considerar aqui, nesta postagem, apenas uma das facetas do pensamento de Ivan Karamázov: o amor ao próximo.
Num dos diálogos quilométricos (característica marcante de Dostoiévisk) mantido entre Aliócha e Ivan, este, num impulso de revolta, confessa não entender como se pode amar o próximo, pois, em sua visão, é justamente o próximo que não se pode amar, só os distantes é possível amar. A questão é saber se isso se deve à má qualidade das pessoas ou se essa é a sua própria natureza.
Jesus ao ver sua hora chegar, se despede dos discípulos deixando um mandamento novo: “...que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 15,34). E em outra passagem: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39).
Para o nosso relutante Ivan, o amor de Cristo pelos homens é, em seu gênero, um milagre impossível na terra. É verdade que Ele foi Deus. Mas nós não somos deuses.
Questão polêmica!
Compartilho aqui com os leitores, a título de ilustração, que nunca me senti tão amado por minha família, e nunca os amei tanto, como nesses últimos 4 anos em que me encontro distante, morando noutra cidade. Nunca hei de esquecer o retorno à casa paterna depois dos primeiro 4 meses de vida “fora do ninho”. Nunca esquecerei (sou saudosista deveras) o afetuoso abraço e o beijo no rosto dado pela Ceci, minha irmã, considerando que nunca fomos tão próximos assim ao ponto de nos tocarmos. Nunca esquecerei o entusiasmado “Ohhhhh meu fíííí” da dona Ivanilda ao me receber sob beijos com gosto de café e abraços impregnados de nicotina. E sem falar do alegre “Deus te abençoe” do seu Cristóvão ao me abraçar ternamente.
Será que para amar uma pessoa é preciso que ela esteja distante ou escondida? Será que se ela mostrar o rosto o amor declina ao ponto de mitigar? Por que é mais fácil amar quem tá distante? Vejam vocês se há aplicação nas vossas vidas. Concordando ou não, o pensamento foi lançado. Que os rios subterrâneos de nossos pensamentos nos levem ao porto seguro da compreensão.
Voltarei no próximo post, talvez com algo ruminado a partir destas realidades. A discussão não acaba aqui, pois amar nunca é demais, mas amar nunca, é demais!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Ingrês" para 2014

O Brasil sediará a Copa de 2014. Como muitos turistas de todo mundo estarão por aqui é imprescindível o aprendizado de outros idiomas (em particular o inglês) para a melhor comunicação com eles. Pensando em auxiliar no aprendizado, o Cunhão teve uma daquelas ideias visionárias e foi atrás de uma solução prática e rápida!! Chegou o sensacional curso 'The Book is on the Table', com muitas palavras que você usará durante a Copa do Mundo de 2014. Veja como é fácil:

a.) Is we in the tape! = É nóis na fita.
b.)Tea with me that I book your face = Chá comigo que eu livro sua cara.
c.) I am more I = Eu sou mais eu.
d.) Do you want a good-good? = Você quer um bom-bom?
e.) Not even come that it doesn't have! = Nem vem que não tem!
f.) She is full of nine o'clock = Ela é cheia de nove horas.
g.) I am completely bald of knowing it. = To careca de saber.
h.) Ooh! I burned my movie! = Oh! Queimei meu filme!
i.) I will wash the mare. = Vou lavar a égua.
j.) Go catch little coconuts! = Vai catar coquinho!
k.) If you run, the beast catches, if you stay the beast eats! = Se correr, o bicho pega, se ficar o bicho come!
l.) Before afternoon than never. = Antes tarde do que nunca.
m.) Take out the little horse from the rain = Tire o cavalinho da chuva.
n.) The cow went to the swamp. = A vaca foi pro brejo!
o.) To give one of John the Armless = Dar uma de João-sem-Braço.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Segundo os chineses, hoje é um dia de sorte. É um dia bom para casar: 09/09/09, em mandarim, significa eternidade. Nem pensar em entrar numa dessa com a pessoa errada, seria um catimbó sem precedentes. E se o usurado pronunciar o tal do "sim" às 09:09:09 o negócio deve ir mesmo até o armagedom! Cuidado, a eternidade é tempo demais!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

.................... e.m...t.o.d.a...p.a.r.t.e ....................


“Ó minha amada,
para uma alma afligida pela solidão
e vivendo num vale de lágrimas
que se tornou a tua ausência
é grande consolo saber que estás em toda parte”

(trecho da obra Um Pergolado tateia no escuro, de Paulo Latejand)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Clássicos da Literatura

As azáfamas da vida não deixa tempo para uma boa leitura? Vai se jogar no Ganges só por isso? Seus problemas acabaram! O Cunhão Trincado apresenta um resumo de alguns clássicos da literatura internacional para você aumentar sua cultura e ter o que botar na mesa na hora de discorrer sobre assuntos do gênero.
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Othelo
William Shakespeare (525 páginas)

Um rei otário, tremendo zé-roela, tem um amigo muito filho da puta que só pensa em fazê-lo de bobo. O malandro, não ganha um cargo no governo e resolve se vingar do rei, convencendo-o de que a rainha está dando pra outro. O zé mané acredita e mata a rainha. Depois descobre que não era corno, mas apenas muito burro por ter acreditado no traíra. Prende o cara e fica chorando sozinho. Fim.


Édipo-Rei

Sófocles (804 páginas)

Maluco tira uma onda, não ouve o que um ceguinho lhe diz e acaba matando o pai, comendo a mãe e furando os olhos. Por conta disso, séculos depois, surge a psicanálise que, enquanto mostra que você vai pelo mesmo caminho, lhe arranca os olhos de cara em cada consulta. Parada muito doida. Fim.

Hamlet
William Shakespeare (742 páginas)

Clássico! Um príncipe com insônia passeia pelas muralhas do castelo, quando o fantasma do pai lhe diz que foi morto pelo tio que dorme com a mãe, cujo homem de confiança é o pai da namorada, que, entretanto, se suicida ao saber que o príncipe matou o seu pai para se vingar do tio que tinha matado o pai do seu namorado e dormia com a mãe. O príncipe mata o tio que dorme com a mãe, depois de falar com uma caveira e morre assassinado pelo irmão da namorada, a mesma que era doida e que tinha se suicidado.
Fim.

Romeu e Julieta
William Shakespeare (425 página)

Dois adolescentes doidinhos se apaixonam, mas as famílias proíbem o namoro, as duas turmas saem na porrada, uma briga grande, muita gente se machuca. Então, um padre filho da mãe tem uma idéia idiota e os dois morrem depois de beber veneno, pensando que era sonífero.


Os Lusíadas
Luís de Camões (650 páginas)

Um poeta com insônia decide encher o saco do rei e contar-lhe uma história de marinheiros que, depois de alguns problemas (logo resolvidos por uma deusa super gente fina), ganham a maior boa vida numa ilha cheia de mulheres gostosas. Fim.


À La recherche du temps perdu
Marcel Proust (1600 páginas)

Um rapaz asmático sofre de insônia porque a mãe não lhe dá um beijinho de boa-noite. No dia seguinte (pág. 486 vol. I), come um bolo e escreve um livro. Nessa noite (pág.1344, vol.VI)‏ tem um ataque de asma porque a namorada (ou namorado?) se recusa a dar-lhe uns beijinhos. Tudo termina num baile (vol. VII) onde estão todos muito velhinhos - e pronto. Fim.

Guerra e Paz
Leon Tolstoi (1200 páginas)

Um rapaz não quer ir à guerra por estar apaixonado e por isso Napoleão invade Moscou. A mocinha casa-se com outro. Fim.

Madame Bovary
Gustave Flaubert (778 páginas)

Uma dona de casa mete o chifre no marido e transa com o padeiro, o leiteiro, o carteiro, o homem do boteco, o dono da mercearia e um vizinho cheio da grana. Depois entra em depressão, envenena-se e morre. Fim.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O tal do Gopal

se eu fosse o tal do gopal
com sua hinduística mística
talvez fosse a vez
de singrar no teu mar

e se num átimo contíguo
redecifrasse a tua face
saberia como seria
o sabor desse labor

remoendo, compreendo
que tua ausência é presença
percebida numa ferida
que insiste em ser triste

se não fosse a pose
de eloquencia e inocência
que trago nesse peito suspeito, diria:
“ó, mágoa, desagua nestes olhos rasos d'água!”

Cristóvão Júnior é neófito nas letras, escritor incauto, e atrevido deveras, envia diariamente a um jornal local seus artigos chinfrins na esperança de vê-los publicados.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

MeViTeVendo

O quadro MeViTeVendo de hoje trás o ambiente interior percebido por este estóico escriba ao despontar desta manhã cinzenta e chuvosa: Uma miscelânea de Geraldo Carneiro com Macunaíma. De um lado a preocupação latente com a marginalidade literária e com a institucionalização da mentira no Brasil, levando a poesia a uma espécie de reserva ecológica da sinceridade. Do outro lado, “ai que preguiça!”

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

ADeus

Aos que ficam, fica meu adeus. A Deus, fica a certeza do encontro. Quanto ao encontro, que eu me encontre primeiro.

Pra dizer adeus - Roberta Sá

Adeus
Vou pra não voltar
E onde quer que eu vá
Sei que vou sozinho.

Tão sozinho amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Desse meu caminho.

Ah, pena eu não saber
Como te contar
Que o amor foi tanto
E no entanto eu queria dizer.

Vem
Eu só sei dizer
Vem nem que seja só
Pra dizer adeus.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Bastidores

Depois de deixar Bastidores de Chico Buarque no repeat durante toda semana passada, e, ainda, ter que conviver com essa cantiga no juízo durante o weekend, vim aqui para vomitar meus inebriamentos e pertubações. Não quero amaldiçoar o dia em que te conheci, nem tão pouco chorar até ficar com dó de mim. Quero apenas lançar um pouco de bálsamo numa ferida já cicatrizada.
Tal música me causa frisson, possui uma apelo cheio de desvarios, algo como cura e libertação. É minha música preferida na hora de entrar debaixo do chuveiro pela manhã. Depois duma preparação prévia, envolvendo respiração e concentração aprendido com ninjas yogui, entro debaixo d'água entoando as berros tal canção com toda a profusão e delírio, a fim de driblar sua gélida temperatura.
Chico Buarque é o cantor de alma feminina por excelência! Este é um dos que deve ter um pacto secreto com a Eternidade. O que seria a “pedra de toque” para atingir o alto grau da maturidade buarquiana?
Partindo da premissa de que há vida depois dos palcos, Chico vem produzindo bastante fora deles, nos bastidores. Uma prova disso é seu novo livro, Leite derramado, sucesso de venda e de crítica (posteriormente, os leitores deste Cunhão ficarão inteirados de seu teor).
A partir das produções deste ícone da nossa cultura, tanto literária quanto musical, vou traçar aqui um paralelo no que diz respeito à vida no seu aspecto oculto, bastidoricamente falando.
Viver nos bastidores: levar uma vida discreta, sóbria e consciente, realizando um trabalho silencioso, sem ao menos ser notado e sem se perceber.
Não sei o que acontece, pois as vezes me parece que os valores são tão transitórios, porém pungentes, que nos arrastam impiedosamente com as mais anêmicas efemeridades. Somos uns tolos!
É nos bastidores da vida que a ferida é aferida, para que se possa remediá-la da forma que convém. É nos bastidores da vida que a decisão importante é tomada, que a paz é encontrada, a insegurança afastada, a sexualidade canalizada, a libertação notada. É nos bastidores da vida que as inquietações são amenizadas para a partir daí surgir um novo homem, capaz de encarar com robustez o pensamento massificado e alienado das quiméricas seduções do ego. (Narcísio acha feio o que não é espelho).
No espetáculo da vida, o que escolher: A luz e o glamour dos holofotes ou a escuridão e o anonimato dos bastidores?
O cético arrogante e altaneiro bufa ao questionar: “Como ficar na história e deixar um legado para as futuras gerações levando uma vida de bastidores medíocre e sem graça como essa?”. Deu para perceber qual é o fio condutor do atual pensamento, pérfido e cheio de vaidades, que nos leva ao precipício ao toque de caixa, numa velocidade imperceptível, que só chega ao nosso perceber quando estamos exaustos e depressivos, pois se constata que a vida nem sempre nos aplaudirá, nem sempre teremos o sucesso almejado, que os nossos cd's não estão vendendo tanto assim. E o simples imaginar de que se está em decadência e fora da Brodway faz pôr em xeque a qualidade desta vida sob o brilho opaco de flash's e holofotes, sob ilusórios confetes, plumas e paetês, sob um falso glamour e requinte que dura apenas um breve instante, aquele décimo de segundo em que o ego é massageado e a sensação de objetivo alcançado é sentido entre os dedos num brevíssimo momento.
Pena que tudo se esvai, tal como a bruma da madrugada ao despontar do sol, para o descontentamento da turba.
Sinto na alma o desejo de bastidores. Claro que nem sempre é/foi assim. É por estar nesse momento ocultado por detrás do cenário que me vem essas clarevidências para serem partilhadas com os leitores que aqui se achegarem.
Não sou inconstante nas minhas definições. Sou constante nas minhas indefinições. Prefiro assim. A inconstância é grave falha. A indefinição é virtude rara.
Artur da Távola, envolto em seu manto de lucidez e empunhando o estandarte de sobriedade, afirma que quem define são aqueles que temem continuar pensando, por parecer mais fácil.
As vezes me percebo inconstante nas minhas definições, sempre tendo definições a cada passo, acreditando nelas, vivendo em contradições. Perceber-se assim já é bater em retirada e retomar o caminho de volta. Tudo é permitido, mas nem tudo convém.
Prefiro ser constante nas minhas indefinições. Que me seja dada a constância de não se intrometer no fluxo natural da vida, permanecendo aqui onde cá estou: na obscuridão dos bastidores e na indefinição.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Da série: "Aurélia, a dicionária da lingua afiada!"

Todos nós aqui da redação do Cunhão Trincado estamos super felizes pela estréia do novo quadro deste blog: “Aurélia, a dicionária da língua afiada!”, que vem apresentar no “popular” e na informalidade o significado de algumas palavras e expressões que não são de domínio popular, a fim de acabar peremptoriamente com as dúvidas que por ventura possam surgir.

BICHO GRILO, bichus griluctus

Definição criada na década de 60 e que pegou muita força na década de 70 definindo uma pessoa com um estilo de vida coerente com o movimento hippie dos Estados Unidos. Com a decadência do movimento hippie a palavra passou a ser usada para designar uma pessoa com um estilo de vida não formal, não seguindo os padrões locais de consumo e comportamento. Geralmente indica a pessoa calma que gosta de paz e amor, usa roupas soltas do tipo artesanal e tenta imitar um estilo de vida como o de John Lennon ou dos hippies. Pode também ser usado para designar alguns tipos de maconheiros que tem um estilo de vida mais voltado para a natureza e distante da violência do tráfico e da marginalidade. Principalmente aqueles que ficam com cara de bobo o dia todo e falam bem devagar e só na gíria.

Ex: Aquele bicho grilo nojento toma banho só uma vez por semana e gasta duas horas para falar paralelepípedo.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Fugacidade ou Fuga, cidade?

Se eu não acreditasse na vida, se perdesse a confiança na mulher querida, se perdesse a confiança na ordem das coisas, se me convencesse até de que tudo, ao contrário, é uma desordem, um caos maldito e talvez até demoníaco, mesmo que todos os horrores da frustração humana me atingisse, ainda sim eu teria vontade de viver, e já que trouxe esse cálice aos lábios não o afastaria de mim enquanto não esvaziasse! Pensando bem, lá por volta dos quarenta anos certamente largarei o cálice mesmo sem esvaziá-lo e me afastarei... não sei para onde. Mas até os quarenta anos, disso estou firmemente certo, minha mocidade vencerá tudo – qualquer frustração, qualquer aversão a vida. Muitas vezes fiz a mim mesmo esta pergunta: se existirá no mundo um desespero que vença em mim essa sede frenética e talvez insana de viver, e decidi que tal coisa parece não existir, ou, reiterando, não existe antes dos quarenta anos, porque depois eu mesmo já não vou querer, assim me parece.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Quem me roubou de mim?


"Saudade que tenho de mim, eu levantava com o sol, a baladeira no pescoço, bolacha e água no bornal"
(Santana o Cantador)

Quem me roubou de mim? O ladrão sorrateiro com sua sagacidade foi atrás das maiores riquezas no lugar errado. O vacilo foi buscar fora aquilo que estava dentro. Pensava ser vantagem as bijuterias que via por aí em detrimento do tesouro que se escondia no mais recôndito e inaudito lugar.

Quem me roubou de mim? Enquanto eu me “achava”, ia me perdendo. Perder-se para se achar ou achar-se para se perder? Com o coração contrito, faço esse desabafo com todos aqueles que miram os fundos de suas xícaras existenciais: Trago em minha carne as marcas das experiências vividas e na lembrança os flash dos momentos de outrora. Pego-me pensando na possibilidade de não ter escrito algumas páginas doloridas nessa minha vida de cigano errante, matutando se isso seria realmente interessante. Ora bolas, ficar pensando em possibilidades absurdas é viver em completa inanição. Pedala esse assunto.

Quem me roubou de mim? O fato é que mais cedo ou mais tarde a queda do cavalo ocorrerá, e o choro acompanhado de remorsos será inevitável. Querer voltar pra barriga de mamãe está fora de cogitação. O que aconteceu com o Apóstolo Paulo no caminho para Damasco é o norte que quero dá nessas mal digitadas linhas. Ao ser ofuscado pelo brilho do Ressuscitado ele precisou de ajuda. Teólogos atestam que a conversão de Paulo se deu na convivência com a comunidade cristã, durante a reabilitação de sua visão. Passado esse tempo de “penúria”, Paulo passou a ver a vida com outros olhos, literalmente.

Quem me roubou de mim? Que uma vaca banguela me morda se de ti, oh doce juventude, eu não me recordar. Lembro com saudade de como era bom o convívio com os amigos lá do Santa Fé, amigos que comungavam os mesmos ideais de retidão, santidade e compromisso; o como era bom acordar cedo e ir à missa no Carmelo; de como era bom os retiros pregados pelo Frei Adolfo; de como era bom as embates filosóficos com o Pedro; o quanto era boa a amizade da Irmã Rita; do quão bom era a presença do Francinaldo; o quão bom era o namoro santo com Dalila; do quanto era bom no tempo do Padre Jorge...

Quem me roubou de mim? Como uma rolinha fogo-pagou eu me pego a repetir incessantemente esta indagação, a espera do milagre. Ah se esse milagre viesse a se tornar realidade. Ora, não são os milagres que inclinam o realista para a fé. O verdadeiro realista, caso não creia, sempre encontrará em si a força e a capacidade para não acreditar no milagre, e se o milagre se apresenta diante dele como um fato irrefutável, é mais fácil ele descrer de seus sentidos que admitir o fato. Apesar de ser realista, prefiro deixar esta minha faceta às escondidas. O apóstolo Tomé declarou que não acreditaria sem antes ver, e quando viu disse: “Meu Senhor e meu Deus!” Terá sido o milagre que o fez acreditar? É mais provável que não, mas ele acreditou unicamente porque desejou acreditar. Parafraseando o truta do Descartes: acredito, logo existo.

Quem me roubou de mim? Existe em mim uma mágoa silenciosa e muito tolerante, que se recolhe em si mesma e se cala. Mas há também uma mágoa dolorida: esta irrompe às vezes em lágrimas e daí deságua em lamentos. Isso acontece de modo particular nas noites de domingo. No entanto, ela não é mais leve que a mágoa silenciosa. Aí os lamentos só mitigam porque irritam ainda mais o coração. Essa mágoa dispensa até o consolo, seu alimento é sentir que não pode ser mitigada. Os lamentos são apenas uma necessidade de sempre avivar a ferida.

Quem me roubou de mim? Enfim, é latente a intensão de empreender uma delicada busca, no afã de reaver aquilo que me foi roubado. Diligencias doloridas se farão necessárias. É um “cortar a própria carne”. O pecado fez estragos profundos. Mas a certeza que se tem é que um homem não pode, absolutamente, cometer um pecado tão grande que esgote o infinito amor de Deus. Ou será que há pecado capaz de superar o amor divino? “Claro (que não), Leonardo!”.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Condenado?

Depois de sorrateiros e histéricos pedidos, depois de ameaças de suicídios à base de sucessivas overdoses de Leite de Magnésia Phillips, depois várias rodadas de roleta russa de grossíssimo calibre, depois de agudos e lancinantes gritos a la Drew Barrimore no filme ET, depois de pulsos cortados e pulos abortados do 14ª andar, este escriba foi conduzido por furiosos verdugos agenciados pela Scothland Yard até uma masmorra escondida, sendo forçado a fazer o login no seu Cunhão Trincado para escrever, através dos mais atrozes vilipêndios, mais um texto psico-afetivo-filosófico-existencial, texto esse que nasce melado de sangue, e importante, recém-parido, primeiro pelo apelo e pelos maus-tratos, segundo porque trás consigo a responsabilidade de ter tido de existir algum dia. Chegou sua hora. Segurem-se nos seus mouses... lá vai


O homem está condenado à liberdade
Quem disse essa besteira? Jean-Paul Sartre (1905-1980). Besteira é uma pinóia, pelo contrário, é uma premissa corrente nesses dias em que o relativismo corrói a mentalidade da grande massa.
Jostein Gaarder, autor de O Mundo de Sofia, ajuda a traçar o pensamento de Sartre como sendo existencialista por excelência, colocando o homem como ponto de partida de tudo. Ao contrário de Kierkegaard, que era cristão, Sartre representa um existencialismo ateu. Empunhando esse estandarte, ele aborda temas centrais do pensamento de Hegel e Marx, descrevendo o homem como um ser estranho no mundo, suportando uma carga de sensações de desespero, tédio e toda sorte de animosidades que provocam náuseas.
Os humanistas da época do Renascimento eram ufanes ao ostentar em tom de triunfo a liberdade e independência do homem. Sartre vem de encontro a esse pensamento, pois achava que tal liberdade era uma maldição. “O homem está condenado à liberdade”, dizia ele. Condenado porque não se criou e, não obstante, é livre. E uma vez atirado ao mundo, passa a ser responsável por tudo que faz.
Somos indivíduos livres e a nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem, para Sartre, valores ou regras eternas, a partir dos quais podemos nos guiar. E isso torna mais importante nossas decisões, nossas escolhas. Sartre chama a atenção precisamente para o fato de o homem nunca poder negar sua responsabilidade pelo que faz. Aquele que assim procede mescla-se a uma massa anônima e se transforma em parte impessoal dela. Ele foge de si mesmo e se refugia na mentira. De outra parte, a liberdade do homem nos obriga a fazer de nós mesmo alguma coisa, a ter uma existência “autêntica” ou verdadeira.
Ao contrário de Sartre, este escriba acredita que possuímos uma origem, um início: Deus.
Fazendo uma alusão ao argumento ontológico de Santo Anselmo, Deus existe necessariamente, pois é impossível pensar em um ser perfeito, e negar-lhe a existência, atributo da perfeição. Ora, se somos capazes de pensar no Ser perfeito é porque Ele existe, porque a perfeição não engloba apenas essência, mas essência e existência.
Professar uma fé e participar de uma igreja são os meios que levam as pessoas a encontrar o religare, a re-ligação, aquilo que as trás de volta à sua origem, dando-lhe respostas íntimas e existenciais. Ao contrário do que acontece costumeiramente, uma religião não pode interferir na liberdade do indivíduo, e nem levá-lo a graus de fanatismo e alienação. A religião deve ser uma ferramenta para se encontrar-se a si mesmo, pleonasticamente falando.
Thomas Merton (1915-1968), monge americano, esboça, através de uma alegoria, como seria a nossa existência sem um norte, dizendo que “se a nossa vida é dissipada em palavras inúteis, jamais ouviremos qualquer outra coisa no fundo do nosso coração, onde Cristo vive e fala em silencio. Nunca seremos nada e, no fim, ao chegar a hora de mostrarmos quem somos, apareceremos sem nada a dizer no momento da decisão crucial: haveremos dito tudo e estaremos exausto de falar antes mesmo de termos alguma coisa a dizer”. E completa: “Aqui jaz um defunto que fez da indiferença um ídolo. Sua oração em vez de inflamá-lo, apagou-lhe o coração. Seu silencio não é atento a nada, não escuta nada e nada tem a dizer. Venham as andorinhas, e façam o ninho em torno desse homem, e ensinem seus filhotes a voar no deserto que ele fez da sua alma, e assim, ele não ficará inútil para sempre."
Entre tantas correntes filosóficas e outras muitas posições ortodoxas, fazer a opção pela senda que Jesus apontou é a mais sóbria das escolhas: “A verdade vos libertará”.
Mas o que é a verdade? Pilatos com esta indagação emudeceu Jesus, não por não haver resposta, mas para deixar para todos nós a iniciativa de buscar a verdade.
Por fim, quebrando as pernas de Sartre, atesto que o homem não foi condenado e recebeu como sentença a liberdade, não. O homem ganhou a liberdade como prêmio, por ser dotado de vontade e de inteligência, para usar da maneira lícita, segundo os critérios impressos na sua alma, alma essa que tem fome e sede de sua origem, fome-sede-saudade de Deus.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Viva la vida



Numa fria manhã de sábado, um grupo de estóicos exploradores de caminhos e trilhas descem de Portalegre/RN em busca das gélidas águas da Cachoeira do Quati, situada no sopé da serra, já na zona rural de Tabuleiro Grande/RN. Sob a trilha sonora de Cold Play, empreenda com a gente nessa epopéia, conferindo as encantadoras paisagens do interior potiguar, onde a legítima vida bucólica é real, onde as divagações do agitado mundo ficam de fora, onde a reflexão acerca do paraíso na terra se torna uma clarevidência.

Sair por ai vagando por caminho nunca dantes percorrido, esperando que o sol finalmente desperte e atinja os seus breves momentos no extremo horizonte, isto num dia frio e tendendo a ficar cinzento, e ver a mais branda e brilhante luz solar desencadear-se sobre a mata verde, sobre os troncos das arvores e da vegetação rasteira, enquanto as nossas sombras alongadas se projetam no campo em direção oeste, como se fossemos os únicos obstáculos de seus raios. Tal era aquela luz que momentos antes não a poderíamos ter imaginado e a atmosfera era tão morna e serena que nada faltava para que o prado se fizesse o paraíso. Quando refleti que aquilo não era um fenômeno isolado que nunca mais se repetiria, mas que aconteceria sempre num infinito numero de manhãs, e que embalaria a mais tardia criança que lá aparecesse, o espetáculo tornou-se ainda mais glorioso, a tal luz, tão pura e brilhante, dourou a relva e as folhas ainda molhadas pela bruma da madrugada, tão suave e serenamente cintilante que imaginei nunca antes ter-me banhado em semelhante fonte de ouro, isenta de qualquer ondulação ou murmúrio.


terça-feira, 7 de julho de 2009

Deslumbramentos

Estreado o quadro Deslumbramentos, onde conversas "intelectuais" são tratadas em locais e em momentos inesperados, venho trazer no episódio de hoje:


Direitos Humanos com o taxista

- Sabe que queimaram um ônibus aqui na cidade?
- É? Nossa, uma cidade tão pequena...
- Sabe de quem é a culpa? Dessas pessoas que deixam todos muito livres.
- Mas quem é que está livre hoje em dia? Não percebe que estamos todos capturados pela sociedade de controle, que o panóptico já se transformou em seminóptico, que os mecanismos sociais consistem na docilização das pessoas?
- Ã?
- Pois então, é isso mesmo, estamos cristalizados em estruturas que não permitem o refluxo. A sustentação de identidades rígidas trabalha a serviço da economia de massa e as pessoas perderam espaço para reflexões. O terrorismo do Estado se man...
- Escuta, onde você vai ficar mesmo?

terça-feira, 23 de junho de 2009

MeViTeVendo

Jacques Lacan & Atchim

Divagações acerca do imaginário e suas implicações no amor, no ódio e na agressividade, acompanhado de uma gripe da "pantera".

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Quero voltar pra barriga da minha mãe, porque lá não tem maldade

Olhar em tempos Pós-Modernos é como viajar em torno de si mesmo. O inferno do mesmo, como dizia Baudrillard.
O olhar capturado pela coisa, pela mercadoria se torna um olhar-sintoma...Um olhar Fantasma colado no semblante do objeto. O Sujeito barrado é expulso de suas conexões jogado na ordem do mais-gozar Lacaniano. Nessa trajetória errante, a subjetividade é subsumida por representações das coisas, por simulacros digitais relembrando Blade Runer de Ridley Scot. Quem é o próximo Replicante? A dobra ou os desdobramentos da alienação ótica força a linguagem do visível ocultando a visão pela hiper-visibilidade, pela saturação da imagem, pela necessidade do excesso, do monstruoso. O olhar do outro é uma representação monstruosa. Nesse sentido os afetos, os laços sociais são fragilizados numa teia de significações perversas que repõem na economia Psìquica as tensões necessárias para manter a ordem capitalista vigente.
Diante da falência de uma certa lei mínima, Eros e Tanatos brigam num jogo Kafkano, ou Bergmniano. Serpente nem sente que me envenenou num olhar Caetânico. A Música parece uma opereta que não consegue desdobrar intervalos, nem silêncios.
O fim das vanguardas, ou o fim das retaguardas evoca uma perda violenta de sentido existencial. Nessa sociedade Policial, como dizia Foucault, é preciso Vigiar e Punir.
O Louco, o Poeta, o Visionário expulsos pelo olhar Platônico trazem na potência dionísica o choro de Nietzsche!...Broduway ou Holiwood não são meras marcas... Parece que expulsaram também o Fantasma da Ópera e o encarceraram em algum lugar. A Ópera em nosso olhar vazio, cheio de desejo... O desejo resvala, exala e inala os perfumes de nosso tempo. Talvez um passeio pelo desejo possa abrir certas janelas... Talvez Afrodite seja mais que um Filme de Wood Allen.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Simbiose


“Associação de dois seres vivos, na qual há benefícios recíprocos; vida em comum”(dicionário Silveira Bueno)

Simbiose, palavra corrente nos balbuciares de geneticistas, biólogos, farmacêuticos, quando estão com aqueles vidrinhos laboratoriais, com toda sorte de soluções químicas, fazendo os mais inauditos experimentos malucos, com a recôndita pretensão de descobrir a fórmula secreta que o faça detentor do maior segredo do mundo, para que assim possa dar os primeiro passos na dominação do planeta.
Deixando as “viagens” de lado, a simbiose pode ser compreendida através do exemplo clássico das mitocôndrias. Há quem diga que elas não existam, coitadas! O fato é que essas danadas moram dentro das células eucarióticas sem pagar aluguel, numa estreita relação de dependência, onde uma não viveria sem a outra. Ora, para a mitocôndria não é só sossego não, de um lado ela tem na célula um ambiente quentinho e seguro para seu desenvolvimento, mas, em contrapartida, se responsabiliza pelo fornecimento de energia para sua hospedeira.
Vamos lá, pensemos em duas coisas magneticamente opostas, que não tem nada a ver, mas que sempre se atraem... puf...eis alguns exemplos: cocó e trança, dedinho do pé e canto de móvel, jato de mijo e tampa de vaso, nariz e dedo, leite fervendo e fogão limpo, café e toalha branca, tornozelo e pedal de bicicleta...
Quero, com toda essa baboseira, levar o leitor a matutar acerca do “quem” ou “o quê” encerra o seu ciclo simbiótico pessoal, quem/o que seria a outra metade, aquilo que mantem um laço de dependência vital, sem o qual não sobreviveria?
Chacoalhando a pitomba existencial e metafísica na boca, examinando minha relação simbiótica, acabo descobrindo muitas, milhares delas (sic), uma espécie de colcha de retalhos (patchwork) se desvela diante de mim, num turbilhão de lembranças que insiste em espancar minha face aqui e afagar acolá, levando-me a concluir que há muitas coisas que estão intimimente ligadas a mim, que não solto nem por 100 e uma fanta. Tudo isso sou eu, ou seja, eu sou minha vida, não há como ficar no singular. Passo a listar alguns insight's* del fuego:

Ventinho que sai do motor do liquidificador
Baladeira
Futebol na chuva
Roubar vela do cemitério em dia de finados
Lamber restinho da massa de bolo que fica na batedeira
Cheiro da prova rodada no extensil
Fazer aviões de papel
Pêra, uva, maçã ou salada mista combinado
Caldo de cana com pastel
Apagar vela de aniversário antes do aniversariante
Monte Sinai
Capitães de Areia, de Jorge Amado
Sonata ao luar, de Beethoven
Reconciliação na chuva
Colecionar coisas sem futuro
Padre Jorge
Vitamina de beterraba
Fogo vermelho do fogão a lenha
Relâmpagos silenciosos numa casa sem energia
Gato preto de porcelana esguio com olhos de botão
Dançar quadrilha
Mordida em jambo maduro
Ordem dos Frades Menores
Mazurka, opera 39 de Tchaikovsky
Fazer “aviãozinho” no terraço todo ensaboado
Cabelo grande, numa rebeldia sem causa aparente
CEFET-PI
Catuaba Guaracy
Percorrer uma fileiras de lençóis brancos lavados e estendidos
Virgília Pascal de 2005
Não vá embora, da Marisa Monte
Cheiro do Pinho Sol tradicional
Andar a cavalo
Ping-pong
Santas Missões Populares
Punhal prateado encontrado no quintal da vovó
Giraya, Jaspion e Changeman
Beijos recebidos no olho depois que seu Cristóvão tomava uma
Natação no clube da Cepisa
A lista de Schindler
Ascensão para a Verdade, de Thomas Merton
Ploc Monster
Noticia do Chupa-Cabra no Fantástico


E por ai vai. A vida, como a roda gigante, tem seus altos e baixos.
Partilhei os altos, os picos, os cimos, na esperança de suscitar em ti a confecção da tua própria lista.
Tudo isto ainda pulsa dentro deste incauto escriba envelhecido em barris de bálsamo. Tudo é vivo. Tudo é claro. Tudo é nítido como ontem. Não seria quem sou sem tais experiência, e estas não seria tão intensas se não acontecessem comigo.
A confluência de muitas simbioses vem desaguar em mim, trazendo lucidez e contradições, trazendo o auto-conhecimento. Todos tem suas simbioses, sejam elas objetos/lembranças/pessoas. Não concordo quando o intemperado Jean-Paul Sartre cochichava no ouvido de sua Simone dizendo que “o inferno são os outros”. Não aqueles “outros” do Lost. Falo dos nossos muitos outros, gente que entrou/saiu, mas permaneceu/permanece, presentes presente na vida.
Vida. Mais vida. Uma vida dentro de outra vida. Somos nossa vida. E quando vejo que a vida espera mais de mim, mais além, vejo que o aprendizado é o próprio fim. Há fim? Será fim? Enfim, no zigue-zaguear da vida, entre decadências e elegâncias, vou aceitando o caos nosso de cada dia.
*A psicologia explica que são os momentos em que uma pessoa se torna lúcida e capaz de entender seus problemas e finalmente encontra a solução para os mesmos!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Vendo o invisível

"como se visse o invisível" (Hebreus 11, 27)

O que seria ver o invisível hoje? Seria ter uma clara convicção daquilo que poderá vir acontecer? Ter diante dos olhos uma realidade tão certa, tão nítida, que ainda não ocorreu, mas que trás a certeza da sua concretude?
O autor bíblico nos faz relembrar a atitude de Moisés, quando este saiu do confortável palácio do Faraó para se juntar ao seu povo, os hebreus, empreendendo um fuga cinematográfica pelo deserto, saindo do cárcere à liberdade, com direito a passar pelo Mar Vermelho sem molhar os pés. Quando uma convicção descomunal se apodera do âmago do homem, pode haver algo que o segure? Quando a certeza está diante dos olhos, há jeito que não dê jeito?
Dentre muitas certezas que temos nessa vida de meu Deus do céu, poucas nos arrastam. Somos cegos, e também preguiçosos.
Literatura, música, natureza: verdadeiros "cirineus" na percepção do invisível.
Quem não fica ofegante diante das poesias de Pablo Neruda, da prosa fácil de Quintana, das canções do Roberto Carlos? A reação de encantamento tida no contato com essas belas artes não seria tocar o invisível, metafisicamente falando? Ora, os sentidos nesse momento são os auditores da veracidade de tal fato, Schopenhauer quem o diga.
O prodigioso Jorge Vercilo, num lampejo de pura clarividência, canta:

"Eu quero ver o invisível,
prever o que está no ar.
Como previ meu futuro ao te ver passar"

Desconfio que esses caras devam ter umas tramóia da pantera, algo como um pacto secreto com a eternidade, uma parada sobrenatural. O trecho da canção "Invisível" expressa bem a certeza de visualização daquilo que não se pode enxergar.
"Disbuiando" em miúdos, trazendo um exemplo para a prática, é você bater o olho numa pessoa e ser acometido duma certeza avassaladora nunca d'ante sentida, é você se abrir para uma realidade onde um ciclo se fecha: É ELA! Dizem os apaixonados que sininhos se fazem ouvir nessa hora.
A cantiga verciliana prossegue:
"Preciso aprender a ver o que não se vê
Para me transformar no que o amor quiser
Ouvir o que não se diz com os olhos te entender
Pra te fazer feliz como me faz você"

Há como não se ver? Há como não te ver? Há como não antever? Há como não prescrever?
Diante do mistério, resta-nos ficar em silêncio. Não há conceitos, não há bê-á-bá, e nada mais a declarar!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sem saber o que escrever

Não sei o que diachu quero escrever aqui hoje, estou esperando a bendita inspiração – acho que ela virá em breve, depois desse fim de semana. Enquanto não sei “o quê” escrever, partilho com os leitores deste augusto cunhão algumas formas de “como” escrever, vejamos:

ESCREVENDO COM OS COTOVELOS:

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ESCREVENDO COM O NARIZ:

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ESCREVENDO COM O QUEIXO:

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ESCREVENDO O PRÓPRIO NOME AVEXADO COM OS ZÓIOS FECHADOS:

Crixotvçao Juniofr
Cristovao Nunioo
Cristiovaio Nubnior
Cristovao Junior
cristova,o Jnuoor
Cristova,o Junoopr

Meu Deus, o que é isso, deixem pra lá, peço-vos perdão, trata-se de mais um momento de precipitação!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A poeira e a estrada

Atendendo a vários pedidos e algumas ameaças, disponho a todos os assíduos leitores deste cunhão duas pérolas do cancioneiro nordestino, advindas do cantor e compositor pernambuncano Maciel Melo, verdadeiros tratados epopéicos da vida interior do homem do sertão.


Amigo olhe a poeira olhe a estrada. Olhe os garranchos que arranham pensamentos. Entre o cascalho vá separando os espinhos. Não esqueça que os caminhos são difíceis pra danar. Nem todo atalho diminui uma distância. Nem toda ânsia no final tem alegria. Veja na flor que o espinho lhe vigia. A noite adormece o dia e a lua vem lhe ninar. Devagarinho vá pelo cheiro das flores. Siga os amores nunca deixe pra depois. Nem tudo é certo como quatro é dois e dois. Nem todo amor merece todo coração. Se a poesia ainda não lhe trouxe o fermento. E o sofrimento entre o amor ganhou a vez. Nem tudo é eterno quando a gente ama. Por isso amigo não se entregue agora. Talvez um dia o mundo lhe peça perdão. Por isso não se perca não. Os amores vão e a gente fica.

Que nem vem vem

Quebrei no dente o taco da literatura Tô na história, tô eu sei Que eu sou motivo pra falar Entrei de cara, cara, tô caindo fora Tá no tempo, já é hora de poder me desfrutarSemente negra, eu sou raiz poderosaAguada em verso e prosa na cacimba de BeláMeu canto tem um chapo-chapo de uma cuiaTem, tem, tem as manhas que mestre Louro plantouPra colher eu canto assim que nem vem-vemPra soar como um acorde de sanfonaFestejar que nem passarim no XerémNamorar com as batidas da zabumbaTum, tum, tum, bate bate meu coraçãoPor um forró que nem o de Passagem FundaTum, tum, tum, bate bate meu coraçãoDá-lhe Zabumba Jackson no Pandeiro é ásTum, tum, tum , bate bate meu coraçãoSe esse moreno não me querNão quero maisNão quero maisTum, tum, tum, bate, bate meu coraçãoPor um forró que nem o de Passagem FundaTum, tum, tum, bate meu coraçãoPor um forró que nem o de Passagem FundaTum, tum, tum bate meu coraçãoDá-lhe zazumba, Jackson no Pandeiro é ásTum, tum, tum, bate, bate meu coraçãoSe esse moreno não me querNão quero mais, tum, tum, tum, bateBate meu coraçãoPor um forró que nem o de Passagem FundaTum, tum, tum, bate, bate, meu coraçãoDá-lhe zabumba, Jackson no pandeiro é ás, Tum, tum, tum, bate meu coração.
Composição: Maciel Melo

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mevitevendo

Estreando o quadro “Mevitevendo”, partilho com os meus asseclas fiéis e leitores do cunhão trincado a disposição interior com a qual acordei hoje: É um misto de Sóren Kierkegaard com Sassá Mutema. Um cheio de angústias religiosas, e o outro que ia do nada ao entendimento.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Vida de Gado, por Pedro Oliveira

Quem ler vive mais, diz o poeta. E vive de fato quem tem consciência da realidade vivida; quem infere sobre a vivência; quem interfere na convivência.
Lendo Os Irmãos Karamázov de autoria do mestre da literatura universal, Dostoiévski, que neste 28 de janeiro se completam 128 anos de seu silêncio, suscitou-me o desejo de partilhar alguma conclusão com quem interessar. Sem dúvida, a leitura desta obra é fundamental para a sobrevivência de quem quer se desviar da onda do “deixa a vida me levar.”
A referida produção está centrada num dilacerante conflito no seio de uma família nobre da sociedade russa por meio do qual o autor descreve o quadro de decadência dos princípios éticos e valores sociais da época (séc. xix).
O drama familiar em questão é costurado pelo tema mítico do parricídio, fenômeno provocador da sensibilidade humana, desencadeador das mais diversas reações e reflexões.
A trama tem lugar na imaginária cidade de Skotoprigonievski, um nome cuja tradução indica local em que o gado é recolhido, ou simplesmente feira de gado. Por ser uma realidade paradigmática, esta cidade assume caráter universal, está em todo lugar e seus habitantes, como gado, sobrevivem encurralados.
Parricídio, ato deplorável, ignominioso...! Assim é encarado nas mais diferentes culturas. Resultante de todo o tipo de sublevação dos valores humanos e da sociabilidade: má criação, desestruturação da família modelar, descarte da figura do pai... Eis a grave problemática enfrentada pela humanidade no mundo moderno onde tal fenômeno, detestável no plano objetivo, adquire formas aceitáveis numa dimensão subjetiva: é o que se pode classificar de parricídio social.
As transformações trazidas pela modernidade implicaram novos valores que atingiram de cheio a família tradicional desencadeando, em particular, uma crise à figura do pai.
Num mundo em que a sensualidade é absolutizada como fonte de prazer, o ser pai acaba resultando do desvario do instinto, de relacionamentos prematuros, descomprometidos, egoístas e hedonistas. Em conseqüência disso surgiu uma sociedade sem pai ou de pai ausente.
Dostoiévski ad mirando o real significado do ser pai assim pergunta: “o que é um pai, um de verdade, que palavra tão grandiosa, que idéia tão formidável há nesse nome?!” A paternidade não é apenas algo instintivo, biológico, mas é, sobretudo, expressão de livre decisão pessoal, de compromisso com a vida. Ser pai implica presença conseqüente.
A falta da figura do pai desestrutura, debilita, fragiliza os filhos; gera desequilíbrio da formação pessoal, delinqüência, uma vez que o pai é a personificação simbólica das atitudes necessárias para a afirmação do indivíduo como pessoa e como ser social.
Na ausência do pai a missão que antes lhe era imputada, agora é delegada ao Estado que através de seus instrumentos de repressão, disciplina, ordena e conduz a vida social tal qual o criador à frente de seu rebanho. “Ê, vida de gado...”
Quem sabe seja por isso que o nosso Machado de Assis, contemporâneo de Dostoiévski, tenha dito através de um personagem de sua criação literária o que sentia por não ter sido pai. Assim, Brás Cubas nas próprias Memórias Póstumas, exprima sua vitória sobre a vida ao afirmar: “– Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”

Pedro Oliveira da Silva é Professor de História na Rede Municipal de Ensino de Teresina/PI

sábado, 9 de maio de 2009

Versos íntimos - Augusto dos Anjos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

:'-(

Por ti chorei lágrimas de rodoviária, lágrimas com poeira de estrada perdida, lágrimas e poeira que viraram maquiagem de lama, tijolos d´alma, petrificando esta face, paralizando um semblante tristemente sepulcral.