quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Do amor ao próximo

Desde que conclui a leitura de Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévisk, senti-me impelido em deixar aqui no Cunhão algumas impressões acerca desta obra de grande magnitude para a literatura internacional.
Vários enfoques poderiam ser dados: o parricídio (morte de Fiódor Karamázov por um dos seus filhos); a santidade de Aliócha e seu imbuído e precoce amor ao ser humano; ou a erudição de Ivan nos campos da história, filosofia, literatura e religião. Vou restringir todo o arcabouço do livro e considerar aqui, nesta postagem, apenas uma das facetas do pensamento de Ivan Karamázov: o amor ao próximo.
Num dos diálogos quilométricos (característica marcante de Dostoiévisk) mantido entre Aliócha e Ivan, este, num impulso de revolta, confessa não entender como se pode amar o próximo, pois, em sua visão, é justamente o próximo que não se pode amar, só os distantes é possível amar. A questão é saber se isso se deve à má qualidade das pessoas ou se essa é a sua própria natureza.
Jesus ao ver sua hora chegar, se despede dos discípulos deixando um mandamento novo: “...que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 15,34). E em outra passagem: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39).
Para o nosso relutante Ivan, o amor de Cristo pelos homens é, em seu gênero, um milagre impossível na terra. É verdade que Ele foi Deus. Mas nós não somos deuses.
Questão polêmica!
Compartilho aqui com os leitores, a título de ilustração, que nunca me senti tão amado por minha família, e nunca os amei tanto, como nesses últimos 4 anos em que me encontro distante, morando noutra cidade. Nunca hei de esquecer o retorno à casa paterna depois dos primeiro 4 meses de vida “fora do ninho”. Nunca esquecerei (sou saudosista deveras) o afetuoso abraço e o beijo no rosto dado pela Ceci, minha irmã, considerando que nunca fomos tão próximos assim ao ponto de nos tocarmos. Nunca esquecerei o entusiasmado “Ohhhhh meu fíííí” da dona Ivanilda ao me receber sob beijos com gosto de café e abraços impregnados de nicotina. E sem falar do alegre “Deus te abençoe” do seu Cristóvão ao me abraçar ternamente.
Será que para amar uma pessoa é preciso que ela esteja distante ou escondida? Será que se ela mostrar o rosto o amor declina ao ponto de mitigar? Por que é mais fácil amar quem tá distante? Vejam vocês se há aplicação nas vossas vidas. Concordando ou não, o pensamento foi lançado. Que os rios subterrâneos de nossos pensamentos nos levem ao porto seguro da compreensão.
Voltarei no próximo post, talvez com algo ruminado a partir destas realidades. A discussão não acaba aqui, pois amar nunca é demais, mas amar nunca, é demais!

4 comentários:

Sandra disse...

Este texto me trouxe a seguinte indagação: por que precisamos de tantos requisitos para podermos amar alguém, ou amar mais esse alguém? Como sempre, o ser humano é guiado por aquilo que ele não tem, por aquilo que ele não pode ter, pelo que quer ter. Infelizmente, ele não é guiado pelo que está perto, disponível, pelas coisas e pessoas que ele tem, que estão com ele no momento que mais precisa, ou nos em que não precisa, mas que la está aquela pessoa do lado para tornar o momento mais bacana. Quem ama quer estar perto,mas tenho a conclusão de que para ser amado é melhor manter distância, não só física.

Leonardo disse...

Sandra sintetizou bem o que iria falar... so acrescentando: a gente naum ama quem ta perto pq cria realmente milhares de requisitos, exigencias, as relações ficam cheias de frescuras, a convivencia q server pra conhecer as pessoas, acabam as afastando! Amar eh tao simples, eh aceitar a pessoa como ela é, mas eh tao dificil, pq ninguem quer abrir mao do que quer e do q pensa para aceitar determinadas caracteristicas das pessoas... amar vai muito alem de esta perto ou esta longe. eh tao simples e tao complicado que se alguem conseguir explicar, direi que ali sim ha alguem que descobriu um grande misterio... e os laços de familia se tornam mais estreitos, dialeticamente, pela distancia. ces la vie!

Ceci disse...

Amar é mais simples do que parece, difícil mesmo é demonstrar o amor que se sente pelas pessoas queridas, talvez por vergonha, ou mesmo por insegurança, não sei, só sei que todos vivemos envoltos por amores velados. Os amores distantes parece que precisam de demonstrações mais concretas, afinal, não sabemos quando estaremos próximos outra vez...

Jô disse...

Junim, Doidim dos Pão...

É lindo ouvir Maria Bethânia dizer: “... eu sei e você sabe, a distância não existe e todo grande amor só é bem grande se for triste...
Mas o bom mesmo é ser feliz! E Deus nos criou para felicidade, ou Ele não seria infinitamente bom!
Estar perto de quem se ama, é viver um pouquinho, num pedacinho do céu.
A distância suaviza o amargor da convivência, mas é justamente no exercício de conviver que seguimos o preceito de Jesus, tão bem citado no texto “ Amai-vos uns aos outros”, na certeza de que esse é o roteiro seguro da felicidade que buscamos.

Bjaum