segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Fim do Cunhão Trincado

Depois de 56 postagens (com cerca de 70 comentários), o Cunhão Trincado se despede dos seus leitores! Uma acertada decisão motivou o Velho da Montanha e chefe desta redação, que, da sua choupana, despachava expedientes com o fito de aliviar as dores do seu eterno caritó. Hoje, o amargoso jiló do isolamento é uma doce companheira.
Vai se matar só por causa disso? Calma!
Um novo espaço foi criado, e todo o conteúdo deste blog foi migrado para lá. A partir de agora, o Sertão de verso assume o papel de desvelar tudo aquilo que há por trás das sístoles e diástoles de um coração pujante.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Partira sozinho, tropeçando em seus próprios pensamentos...

Almoçava e assistia o dvd “Maricotinha”, de Maria Betânia. Entre uma música e outra, algumas poesias. Todo aquele conjunto harmonioso ("de cores e sabores", completaria Sandra Anemberg, no Jornal Hoje) fazia-me plainar do chão, numa ascensão alucinógenamente embriagativa.

Partira sozinho, tropeçando em seus próprios pensamentos...

Até o momento em que senti a minh'alma, numa desenvoltura olímpica, dando um duplo twist carpado – a la Daiane dos Santos, retornar ao meu corpo. Tal enlevo fora interrompido por uma indagação (inoportuna) da Dona Elza:

- Aff, tu gosta de desse agouro?

Joguei “agouro” no google do meu cérebro e, depois de 2 longos segundos, acionei o mecanismo facial que expressa o sorriso amarelo.

Partira sozinho, tropeçando em seus próprios pensamentos...

Desde então esse mote não me sai da cabeça. Ainda hei de desenvolvê-lo, quem sabe no próximo post. Depois da ultima garfada, parti sozinho, tropeçando em meus próprios pensamentos.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Do elogio

Cena 1: Depois de encontrá-la pela terceira e já com a intimidade de abraçar, disse: “Como sua pele é macia”. Havia percebido aquilo antes mesmo de tocá-la. A moça fingiu não entender, e aí pairou a dúvida de repetir ou não o elogio, mas, sem medo de parecer um completo idiota, disse novamente. Ela então deslizou sua mão pelo braço e disse com desdém: “E é por que saí tão apressada de casa que nem passei hidratante”

Cena 2: Festa de aniversário de uma amiga, que, de tão bela num vestido florido, tive que pontuar: “Você tá linda, nota 10, parabéns pelo aniversário e pelo vestido”. Não foi preciso repetir o elogio dessa vez, ela ouviu em alto e bom som, bem como os demais presentes, mas a reação já era aquela esperada: “Vixe, esse vestido é antigo demais, relutei muito para usá-lo hoje”.

Cena 3: Antes da missa e, depois de um cordial cumprimento, disse: “Como seu cabelo fico lindo com esse novo corte”. Ela respondeu imediatamente: “Aff, ele tá sujo e eu nem escovei antes de vir pra cá”.

Que danado é isso? Por que mulher não sabe receber elogio? Tem sempre que dar uma explicação. Como se não o merecesse, e precisasse de uma justificativa para estar ou ser bonita. Como se procurasse algum detalhe que lhe diminuísse o valor. Ou então, é o contrário. Uma tentativa – inconsciente, talvez – de se valorizar. Como se dissesse: “Meus cabelos são bonitos mesmo sem escova”. “Meu vestido é antiquíssimo e eu fico linda nele”. “Eu nem passei hidratante, mas veja como sou macia”. Não sei o que é pior.

As pessoas elogiam por vários motivos. Para lisonjear. Por interesse. Porque têm a expectativa do agradecimento – querem atenção, então dão atenção. Ou para registrar uma opinião ou impressão. Eu elogio porque acho a coisa ou a atitude bonita, e penso que a pessoa gostará de saber disso. Simples assim. Coisa mais feia recusar elogio.

Cena 4. Tirei o cartão do bolso, ia pagar minhas compras. A moça do caixa usava um anel que era luxo só. Grudei os olhos nele, suspirei… e pedi: “Débito, por favor.”