quinta-feira, 21 de maio de 2009

Vendo o invisível

"como se visse o invisível" (Hebreus 11, 27)

O que seria ver o invisível hoje? Seria ter uma clara convicção daquilo que poderá vir acontecer? Ter diante dos olhos uma realidade tão certa, tão nítida, que ainda não ocorreu, mas que trás a certeza da sua concretude?
O autor bíblico nos faz relembrar a atitude de Moisés, quando este saiu do confortável palácio do Faraó para se juntar ao seu povo, os hebreus, empreendendo um fuga cinematográfica pelo deserto, saindo do cárcere à liberdade, com direito a passar pelo Mar Vermelho sem molhar os pés. Quando uma convicção descomunal se apodera do âmago do homem, pode haver algo que o segure? Quando a certeza está diante dos olhos, há jeito que não dê jeito?
Dentre muitas certezas que temos nessa vida de meu Deus do céu, poucas nos arrastam. Somos cegos, e também preguiçosos.
Literatura, música, natureza: verdadeiros "cirineus" na percepção do invisível.
Quem não fica ofegante diante das poesias de Pablo Neruda, da prosa fácil de Quintana, das canções do Roberto Carlos? A reação de encantamento tida no contato com essas belas artes não seria tocar o invisível, metafisicamente falando? Ora, os sentidos nesse momento são os auditores da veracidade de tal fato, Schopenhauer quem o diga.
O prodigioso Jorge Vercilo, num lampejo de pura clarividência, canta:

"Eu quero ver o invisível,
prever o que está no ar.
Como previ meu futuro ao te ver passar"

Desconfio que esses caras devam ter umas tramóia da pantera, algo como um pacto secreto com a eternidade, uma parada sobrenatural. O trecho da canção "Invisível" expressa bem a certeza de visualização daquilo que não se pode enxergar.
"Disbuiando" em miúdos, trazendo um exemplo para a prática, é você bater o olho numa pessoa e ser acometido duma certeza avassaladora nunca d'ante sentida, é você se abrir para uma realidade onde um ciclo se fecha: É ELA! Dizem os apaixonados que sininhos se fazem ouvir nessa hora.
A cantiga verciliana prossegue:
"Preciso aprender a ver o que não se vê
Para me transformar no que o amor quiser
Ouvir o que não se diz com os olhos te entender
Pra te fazer feliz como me faz você"

Há como não se ver? Há como não te ver? Há como não antever? Há como não prescrever?
Diante do mistério, resta-nos ficar em silêncio. Não há conceitos, não há bê-á-bá, e nada mais a declarar!

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