terça-feira, 14 de julho de 2009

Condenado?

Depois de sorrateiros e histéricos pedidos, depois de ameaças de suicídios à base de sucessivas overdoses de Leite de Magnésia Phillips, depois várias rodadas de roleta russa de grossíssimo calibre, depois de agudos e lancinantes gritos a la Drew Barrimore no filme ET, depois de pulsos cortados e pulos abortados do 14ª andar, este escriba foi conduzido por furiosos verdugos agenciados pela Scothland Yard até uma masmorra escondida, sendo forçado a fazer o login no seu Cunhão Trincado para escrever, através dos mais atrozes vilipêndios, mais um texto psico-afetivo-filosófico-existencial, texto esse que nasce melado de sangue, e importante, recém-parido, primeiro pelo apelo e pelos maus-tratos, segundo porque trás consigo a responsabilidade de ter tido de existir algum dia. Chegou sua hora. Segurem-se nos seus mouses... lá vai


O homem está condenado à liberdade
Quem disse essa besteira? Jean-Paul Sartre (1905-1980). Besteira é uma pinóia, pelo contrário, é uma premissa corrente nesses dias em que o relativismo corrói a mentalidade da grande massa.
Jostein Gaarder, autor de O Mundo de Sofia, ajuda a traçar o pensamento de Sartre como sendo existencialista por excelência, colocando o homem como ponto de partida de tudo. Ao contrário de Kierkegaard, que era cristão, Sartre representa um existencialismo ateu. Empunhando esse estandarte, ele aborda temas centrais do pensamento de Hegel e Marx, descrevendo o homem como um ser estranho no mundo, suportando uma carga de sensações de desespero, tédio e toda sorte de animosidades que provocam náuseas.
Os humanistas da época do Renascimento eram ufanes ao ostentar em tom de triunfo a liberdade e independência do homem. Sartre vem de encontro a esse pensamento, pois achava que tal liberdade era uma maldição. “O homem está condenado à liberdade”, dizia ele. Condenado porque não se criou e, não obstante, é livre. E uma vez atirado ao mundo, passa a ser responsável por tudo que faz.
Somos indivíduos livres e a nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem, para Sartre, valores ou regras eternas, a partir dos quais podemos nos guiar. E isso torna mais importante nossas decisões, nossas escolhas. Sartre chama a atenção precisamente para o fato de o homem nunca poder negar sua responsabilidade pelo que faz. Aquele que assim procede mescla-se a uma massa anônima e se transforma em parte impessoal dela. Ele foge de si mesmo e se refugia na mentira. De outra parte, a liberdade do homem nos obriga a fazer de nós mesmo alguma coisa, a ter uma existência “autêntica” ou verdadeira.
Ao contrário de Sartre, este escriba acredita que possuímos uma origem, um início: Deus.
Fazendo uma alusão ao argumento ontológico de Santo Anselmo, Deus existe necessariamente, pois é impossível pensar em um ser perfeito, e negar-lhe a existência, atributo da perfeição. Ora, se somos capazes de pensar no Ser perfeito é porque Ele existe, porque a perfeição não engloba apenas essência, mas essência e existência.
Professar uma fé e participar de uma igreja são os meios que levam as pessoas a encontrar o religare, a re-ligação, aquilo que as trás de volta à sua origem, dando-lhe respostas íntimas e existenciais. Ao contrário do que acontece costumeiramente, uma religião não pode interferir na liberdade do indivíduo, e nem levá-lo a graus de fanatismo e alienação. A religião deve ser uma ferramenta para se encontrar-se a si mesmo, pleonasticamente falando.
Thomas Merton (1915-1968), monge americano, esboça, através de uma alegoria, como seria a nossa existência sem um norte, dizendo que “se a nossa vida é dissipada em palavras inúteis, jamais ouviremos qualquer outra coisa no fundo do nosso coração, onde Cristo vive e fala em silencio. Nunca seremos nada e, no fim, ao chegar a hora de mostrarmos quem somos, apareceremos sem nada a dizer no momento da decisão crucial: haveremos dito tudo e estaremos exausto de falar antes mesmo de termos alguma coisa a dizer”. E completa: “Aqui jaz um defunto que fez da indiferença um ídolo. Sua oração em vez de inflamá-lo, apagou-lhe o coração. Seu silencio não é atento a nada, não escuta nada e nada tem a dizer. Venham as andorinhas, e façam o ninho em torno desse homem, e ensinem seus filhotes a voar no deserto que ele fez da sua alma, e assim, ele não ficará inútil para sempre."
Entre tantas correntes filosóficas e outras muitas posições ortodoxas, fazer a opção pela senda que Jesus apontou é a mais sóbria das escolhas: “A verdade vos libertará”.
Mas o que é a verdade? Pilatos com esta indagação emudeceu Jesus, não por não haver resposta, mas para deixar para todos nós a iniciativa de buscar a verdade.
Por fim, quebrando as pernas de Sartre, atesto que o homem não foi condenado e recebeu como sentença a liberdade, não. O homem ganhou a liberdade como prêmio, por ser dotado de vontade e de inteligência, para usar da maneira lícita, segundo os critérios impressos na sua alma, alma essa que tem fome e sede de sua origem, fome-sede-saudade de Deus.

2 comentários:

Unknown disse...

Sartre, Merton, Gaarder, Cristovão Junior... renomáveis filósofos, pensadores, inquietados e inquietantes estimuladores do pensamento e da existência dos simples mortais.

Unknown disse...

Embora Sartre afirme que a vida não possui um sentido inato,isto não quer dizer que para ele nada importa. Sartre não é um niilista.
Sartre acreditava que a vida devia ter um sentido , só que nós mesmos é que devemos criar este sentido.
Quando ele fala , "O homem está condenado à liberdade " , na minha opinião e pelo que entendi do livro ele não se refere a liberdade (O LIVRE ARBÍTRIO)que DEUS nos deu , e sim o meio em que vivemos (A SOCIEDADE E OS "BONS CUSTUMES"), as leis que regem determinado país , eu e vc realmente não somos livres, somos escravos das vontades que a menoria nos impõem a cumpri-las , eu seria realmente livre se pudesse fazer o que eu quero. Não posso ir trabalhar com calça jean azul claro , por que sou abrigada a usar azul escuro, isso até que é compreensível pois concordei quande aceitei trabalhar.
EX:eu não posso fazer topless na praia só por que eu quero.As pessoas não permitem , e eu tenho que ir de acordo com isso.
#Não posso deixar de votar , pq eu não tenho a mínima vontade de eleger alguém. Sou obrigada a votar em branco. Nos EUA tudo isso é possível.
Lá existe a pena de morte , eu já não concordo com isso.

Então...na verdade nem eu nem você está certo, ninguém está(nem jesus estava) e essas coisas servem para que possamos discutir , de certa formar viver ou ter um sentido para nossas vidas, assim estaremos sendo "autênticos" e outros estão sendo autênticos também em outro assunto em outra realidade.
Uma frase do livro O MUNDO DE SOFIA,se não me engano diz " é fácil ser inteligênte depois".

Um abraço...