quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Êxtase, santidade, consumo e otras cositas más

Ao se aproximar o fim do ano, e com ele as suas festas, uma áurea angélica toma conta de todos nós. Ôpa, peraê! Pra cima de moir, não! Longe de mim cair na onda do “espírito natalino”.
O que na verdade me ocorre é um deslumbramento com a festa do Natal do Senhor. A Igreja, com sua tradição, nos insere numa caminhada chamada Advento. Nesse tempo de espera sinto-me observante e fundamentalista, propenso à anêmicas aspirações de santidade (uma pena ficar apenas em aspirações), mas consciente de que o simples desejo de amar já é amor.
Sim, sinto santos desejos de santidade. Santo é um amigo de Deus, aquele que faz a experiência do Amor. O êxtase que os santo prova lhe dá o respaldo necessário para falar aos demais, ainda que de forma imperfeita, o quão suave e agradável é viver nesse ÊXTASE. Os gregos já davam esse nome ao estado daquele que se transporta para fora de si, criando, assim, um vazio a ser ocupado por Apolo ou por Dionísio.
Não é preciso ser santo para experimentar, pelo menos em parte, a sensação do êxtase (sei lá, nunca fui santo, mas desconfio ser um chatice esse extasis beatifictus, uma coisa muito sem graça). No geral, todos tivemos momentos semelhantes, alcançados sob a influência do vinho, ou durante os instantes de grande alegria, ou no encantamento provocado pelo amor. Há pessoas que entram em êxtase quando estão nas compras, consumindo desenfreadamente, tudo em nome do bendito "espírito natalino" .
Perceba, vivemos em meio a desejos soltos. Estamos sempre desejando as coisas, queremos ser, queremos ter, desejamos isso, desejamos aquilo. Isso pode gerar uma patologia séria, cuidado! Na antiguidade, aquele que havia aprendido a controlar seus desejos era considerando santo. Hoje em dia muitos veriam nele uma pessoa conformada e sem ambição, como uma cabra (veja o semblante de uma cabra, não há ambição alguma).
É aqui onde queria chegar: aquele que se deixa levar por seus desejos não é um homem livre, nem tão pouco feliz, pelo simples fato de estar sempre insatisfeito. Numa visão epicurista, um homem feliz é aquele que aprendeu a não ser escravo de seus desejos. A relação com nossos próprios desejos é muito complexa. A insatisfação desses desejos pode gerar frustração e até dor.
Nesse fim de ano é prudente frear certos impulsos e dá vazão a outros. Faça sua escolha. Eu fiz a minha: ser cabra!

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