Vai se matar só por causa disso? Calma!
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Fim do Cunhão Trincado
Vai se matar só por causa disso? Calma!
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Partira sozinho, tropeçando em seus próprios pensamentos...
Partira sozinho, tropeçando em seus próprios pensamentos...
Até o momento em que senti a minh'alma, numa desenvoltura olímpica, dando um duplo twist carpado – a la Daiane dos Santos, retornar ao meu corpo. Tal enlevo fora interrompido por uma indagação (inoportuna) da Dona Elza:
- Aff, tu gosta de desse agouro?
Joguei “agouro” no google do meu cérebro e, depois de 2 longos segundos, acionei o mecanismo facial que expressa o sorriso amarelo.
Partira sozinho, tropeçando em seus próprios pensamentos...
Desde então esse mote não me sai da cabeça. Ainda hei de desenvolvê-lo, quem sabe no próximo post. Depois da ultima garfada, parti sozinho, tropeçando em meus próprios pensamentos.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Do elogio
Cena 1: Depois de encontrá-la pela terceira e já com a intimidade de abraçar, disse: “Como sua pele é macia”. Havia percebido aquilo antes mesmo de tocá-la. A moça fingiu não entender, e aí pairou a dúvida de repetir ou não o elogio, mas, sem medo de parecer um completo idiota, disse novamente. Ela então deslizou sua mão pelo braço e disse com desdém: “E é por que saí tão apressada de casa que nem passei hidratante”
Cena 2: Festa de aniversário de uma amiga, que, de tão bela num vestido florido, tive que pontuar: “Você tá linda, nota 10, parabéns pelo aniversário e pelo vestido”. Não foi preciso repetir o elogio dessa vez, ela ouviu em alto e bom som, bem como os demais presentes, mas a reação já era aquela esperada: “Vixe, esse vestido é antigo demais, relutei muito para usá-lo hoje”.
Cena 3: Antes da missa e, depois de um cordial cumprimento, disse: “Como seu cabelo fico lindo com esse novo corte”. Ela respondeu imediatamente: “Aff, ele tá sujo e eu nem escovei antes de vir pra cá”.
Que danado é isso? Por que mulher não sabe receber elogio? Tem sempre que dar uma explicação. Como se não o merecesse, e precisasse de uma justificativa para estar ou ser bonita. Como se procurasse algum detalhe que lhe diminuísse o valor. Ou então, é o contrário. Uma tentativa – inconsciente, talvez – de se valorizar. Como se dissesse: “Meus cabelos são bonitos mesmo sem escova”. “Meu vestido é antiquíssimo e eu fico linda nele”. “Eu nem passei hidratante, mas veja como sou macia”. Não sei o que é pior.
As pessoas elogiam por vários motivos. Para lisonjear. Por interesse. Porque têm a expectativa do agradecimento – querem atenção, então dão atenção. Ou para registrar uma opinião ou impressão. Eu elogio porque acho a coisa ou a atitude bonita, e penso que a pessoa gostará de saber disso. Simples assim. Coisa mais feia recusar elogio.
Cena 4. Tirei o cartão do bolso, ia pagar minhas compras. A moça do caixa usava um anel que era luxo só. Grudei os olhos nele, suspirei… e pedi: “Débito, por favor.”
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Saga estóica
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Levitar
Levitar - Circuladô de Fulô
Que amor é esse menina
Que voa mais alto feito balão num céu de anil
Pintado em noites de São João
Não vá me dizer oh criança
Que não sabe dançar essa dança
Nessa noite tão linda
Que jurei o meu amor
Passa o tempo que for
Vou ser teu amigo
Passa o tempo que for
Vou ser teu irmão
Será que é sonho ou realidade
Não sei não
Mas agora eu vou
Levitar, levitar
Vou voando te encontrar
Levitar, levitar
Nos meus sonhos vou te amar
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Será que os sentidos fazem sentido?
O corpo, com seus segmentos sensoriais, assume papel indispensável no processo do conhecimento de si-próprio e da realidade ao redor, contrariando Descartes que dava ao pensar toda excelência, como se só o cogito bastasse.
A base do nosso conhecimento racional não é racional, já que começa através das sensações corporais.
É bem simples de entender: o corpo informa os dados dos objetos e sensações ao entendimento (cérebro). Assim, em vez da razão definir sozinha, ela se torna dependente das informações do corpo.
Nossas escolhas e atitudes são delineadas pelo que nos trará mais prazer, a partir de satisfações já experienciadas.
A porta de entrada dos prazeres são os sentidos. O tédio e o sofrimento surgem na ausência do prazer, ou quando não dispomos de meios para atingi-los. Suas raízes surgem quando a pessoa em si (ou fora de si) deseja repetir situações de prazer, mas se vê privada pela razão, compreendendo que uma escolha aqui ensejará numa merda acolá.
Já fiz muitas besteiras a mando e por desmandos do meu Eu-lírico. O meu Eu-lírico é dado aos prazeres desordenados que os sentidos proporcionam. Já o meu Eu-empírico, educado por Kant, é mais cauteloso; encontrando prazer na renuncia de circunstancias de prazer.
Que sentido tem os sentidos? Eles existem para que sejamos senhores, e não meros escravos deles. Nossos sentidos ficam pentelhado nosso querer na intensidade proporcional da inviabilidade, dificuldade, impossibilidade do objeto desejado. Como sair dessa “sinuca de bico”? Mas pra quê sair? Vá, deseje aquilo que trás sua satisfação. Deseje com moderação!
O sentido dos sentidos reside na VONTADE, essa força interior é sentida tanto no poder de certos desejos como na aptidão para dominá-los.
A vontade é o elemento fundamental que trás o sentido das coisas e do mundo. Schopenhauer ensina que é na união entre o corpo e o sentimento que está a essência metafísica elementar: a vontade de viver.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Êxtase, santidade, consumo e otras cositas más
O que na verdade me ocorre é um deslumbramento com a festa do Natal do Senhor. A Igreja, com sua tradição, nos insere numa caminhada chamada Advento. Nesse tempo de espera sinto-me observante e fundamentalista, propenso à anêmicas aspirações de santidade (uma pena ficar apenas em aspirações), mas consciente de que o simples desejo de amar já é amor.
Sim, sinto santos desejos de santidade. Santo é um amigo de Deus, aquele que faz a experiência do Amor. O êxtase que os santo prova lhe dá o respaldo necessário para falar aos demais, ainda que de forma imperfeita, o quão suave e agradável é viver nesse ÊXTASE. Os gregos já davam esse nome ao estado daquele que se transporta para fora de si, criando, assim, um vazio a ser ocupado por Apolo ou por Dionísio.
Não é preciso ser santo para experimentar, pelo menos em parte, a sensação do êxtase (sei lá, nunca fui santo, mas desconfio ser um chatice esse extasis beatifictus, uma coisa muito sem graça). No geral, todos tivemos momentos semelhantes, alcançados sob a influência do vinho, ou durante os instantes de grande alegria, ou no encantamento provocado pelo amor. Há pessoas que entram em êxtase quando estão nas compras, consumindo desenfreadamente, tudo em nome do bendito "espírito natalino" .
Perceba, vivemos em meio a desejos soltos. Estamos sempre desejando as coisas, queremos ser, queremos ter, desejamos isso, desejamos aquilo. Isso pode gerar uma patologia séria, cuidado! Na antiguidade, aquele que havia aprendido a controlar seus desejos era considerando santo. Hoje em dia muitos veriam nele uma pessoa conformada e sem ambição, como uma cabra (veja o semblante de uma cabra, não há ambição alguma).
É aqui onde queria chegar: aquele que se deixa levar por seus desejos não é um homem livre, nem tão pouco feliz, pelo simples fato de estar sempre insatisfeito. Numa visão epicurista, um homem feliz é aquele que aprendeu a não ser escravo de seus desejos. A relação com nossos próprios desejos é muito complexa. A insatisfação desses desejos pode gerar frustração e até dor.
Nesse fim de ano é prudente frear certos impulsos e dá vazão a outros. Faça sua escolha. Eu fiz a minha: ser cabra!
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Paráfrase de Habacuque 3, 17-18
Embora a seca seque fontes e rios
E os campos fiquem esturricados
E o gado morra de sede e fome
E as queimadas devorem os pastos
E os machados transformem florestas verdes em desertos áridos
E os palácios estejam cheios de corruptos
A despeito disso minha alegria continuará a florir
E farei poemas diante do Impossível.
sábado, 7 de novembro de 2009
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Recesso de mim
com pretensões estáticas
resolve parar
com o fito de filtrar a vida
por entre os grãos
de ampulhetas mortais
com o olhar detido
nas divagações do meu imaginário
vou tirar férias de mim
fadigado e farto
estou saindo de cena
vou atrás do que vejo à frente
desapegado de antigas certezas
seguirei com relutância
vencendo-me secretamente
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
poetadanadodeentender
Há neófitos se achando iniciados nesta bela arte, que, com discursos verborrágicos, abusam da dialética em momentos cruciais em que a situação pede clareza nas ideias.
só falta eu perder a vida"
Consideremos por um momento àqueles que se acham poetas (sem o ser), no fundo eles querem ser compreendidos, querem transmitir realidades nítidas e bem definidas que a linguagem coloquial não consegue expressar.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Do amor e da necessidade
Mesmo sem a experiência de um Baudelaire, atesto que o amor não é uma mera troca de necessidades. Esta seria sua forma ilusória. Uma espécie de pacto secreto e inconsciente entre as pessoas faz parecer amor o que é momentaneamente troca de necessidades. As carências são tantas e tão grandes, que a satisfação delas surge disfarçadas de amor. Mas que amor não é. É um troca de necessidade.
O Globo Repórter disse na ultima sexta-feira que somos a máquina mais perfeita e cheia de detalhes já criada. A complexidade é tamanha que chega a atingir outros campos não corpóreos, e é nesses que quero me deter. Matizes culturais e rizomas psicológicos são responsáveis por individualismo de sobrevivência: primeiro atendo as minhas necessidades para depois ver o que o outro precisa. É uma força tão poderosa que, quando envereda pela via sentimental, quase sempre vem carregada de afeto (o mesmo afeto que é um dos componentes do amor), e por isso é confundida com o amor.
Passada a necessidade, as pessoas se deparam com o que são e com o que sentem, e, às vezes, descobre que o sentimento que havia não passava de atração, gratidão, respeito, segurança, bem-estar, conforto, status, medo das opiniões, pressão familiar, espírito aventureiro, ânsia de sair de casa, ou, até mesmo, apego ao sofrimento... várias coisas importantes, necessidades válidas, porém não amor.
Amor: intrincamento tamanho na nossa inteligência emocional que podemos até confundi-lo com a necessidade de sentir amor.
Com o passar do tempo vamos entrando na onda de achar que somos as nossas necessidades. Conseqüência disso é o de fixarmos certos rótulos para certas pessoas, achando-as estúpidas, mesquinhas, egocêntricas, como se estas substituísse o próprio umbigo pelo sol na teoria de Copérnico.
Artur da Távola diz que as nossas características são uma espécie de sintoma das nossas necessidades. Mas a gente vai achando que essas necessidades são a gente, de fato, e que explica-nos. Não! As nossas características não são sintomas das nossas necessidades.
Tomemos como exemplo este escriba: quem o conhece bem (há quem o conheça até demais) sabe que sua patologia atinge o nível 8 na Escala Richter (que vai até 9) no que se refere aos sentimentos que circundam a região do miocárdio. Cativo no exílio da Carenciolândia, vivendo num deserto de afetos, vem sofrendo no varejo para atender parcialmente suas necessidades mais latentes. Focar o problema deste miserável é lançar um olhar puramente situacional. Ele não é essas necessidades que o atormentam.
Daí saber, durante a vigência de um sentimento, se é amor ou se é clamor de alguma necessidade, é algo de uma dificulidade enorme.
A diferença reside no seguinte, e aqui eu concluo meu pensamento: a gente não sabe quando é necessidade, mas quando é amor sempre se sabe. Porque o amor resiste a todas as besteiras que fazemos com ele. O amor resiste até à nossa incapacidade de alimentá-lo. Já a necessidade uma vez satisfeita, ela se acaba.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Do amor ao próximo
Vários enfoques poderiam ser dados: o parricídio (morte de Fiódor Karamázov por um dos seus filhos); a santidade de Aliócha e seu imbuído e precoce amor ao ser humano; ou a erudição de Ivan nos campos da história, filosofia, literatura e religião. Vou restringir todo o arcabouço do livro e considerar aqui, nesta postagem, apenas uma das facetas do pensamento de Ivan Karamázov: o amor ao próximo.
Num dos diálogos quilométricos (característica marcante de Dostoiévisk) mantido entre Aliócha e Ivan, este, num impulso de revolta, confessa não entender como se pode amar o próximo, pois, em sua visão, é justamente o próximo que não se pode amar, só os distantes é possível amar. A questão é saber se isso se deve à má qualidade das pessoas ou se essa é a sua própria natureza.
Jesus ao ver sua hora chegar, se despede dos discípulos deixando um mandamento novo: “...que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Jo 15,34). E em outra passagem: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39).
Para o nosso relutante Ivan, o amor de Cristo pelos homens é, em seu gênero, um milagre impossível na terra. É verdade que Ele foi Deus. Mas nós não somos deuses.
Questão polêmica!
Compartilho aqui com os leitores, a título de ilustração, que nunca me senti tão amado por minha família, e nunca os amei tanto, como nesses últimos 4 anos em que me encontro distante, morando noutra cidade. Nunca hei de esquecer o retorno à casa paterna depois dos primeiro 4 meses de vida “fora do ninho”. Nunca esquecerei (sou saudosista deveras) o afetuoso abraço e o beijo no rosto dado pela Ceci, minha irmã, considerando que nunca fomos tão próximos assim ao ponto de nos tocarmos. Nunca esquecerei o entusiasmado “Ohhhhh meu fíííí” da dona Ivanilda ao me receber sob beijos com gosto de café e abraços impregnados de nicotina. E sem falar do alegre “Deus te abençoe” do seu Cristóvão ao me abraçar ternamente.
Será que para amar uma pessoa é preciso que ela esteja distante ou escondida? Será que se ela mostrar o rosto o amor declina ao ponto de mitigar? Por que é mais fácil amar quem tá distante? Vejam vocês se há aplicação nas vossas vidas. Concordando ou não, o pensamento foi lançado. Que os rios subterrâneos de nossos pensamentos nos levem ao porto seguro da compreensão.
Voltarei no próximo post, talvez com algo ruminado a partir destas realidades. A discussão não acaba aqui, pois amar nunca é demais, mas amar nunca, é demais!
terça-feira, 15 de setembro de 2009
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
"Ingrês" para 2014
a.) Is we in the tape! = É nóis na fita.
b.)Tea with me that I book your face = Chá comigo que eu livro sua cara.
c.) I am more I = Eu sou mais eu.
d.) Do you want a good-good? = Você quer um bom-bom?
e.) Not even come that it doesn't have! = Nem vem que não tem!
f.) She is full of nine o'clock = Ela é cheia de nove horas.
g.) I am completely bald of knowing it. = To careca de saber.
h.) Ooh! I burned my movie! = Oh! Queimei meu filme!
i.) I will wash the mare. = Vou lavar a égua.
j.) Go catch little coconuts! = Vai catar coquinho!
k.) If you run, the beast catches, if you stay the beast eats! = Se correr, o bicho pega, se ficar o bicho come!
l.) Before afternoon than never. = Antes tarde do que nunca.
m.) Take out the little horse from the rain = Tire o cavalinho da chuva.
n.) The cow went to the swamp. = A vaca foi pro brejo!
o.) To give one of John the Armless = Dar uma de João-sem-Braço.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
.................... e.m...t.o.d.a...p.a.r.t.e ....................
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Clássicos da Literatura
Othelo
William Shakespeare (525 páginas)
Um rei otário, tremendo zé-roela, tem um amigo muito filho da puta que só pensa em fazê-lo de bobo. O malandro, não ganha um cargo no governo e resolve se vingar do rei, convencendo-o de que a rainha está dando pra outro. O zé mané acredita e mata a rainha. Depois descobre que não era corno, mas apenas muito burro por ter acreditado no traíra. Prende o cara e fica chorando sozinho. Fim.
Édipo-Rei
Sófocles (804 páginas)
Maluco tira uma onda, não ouve o que um ceguinho lhe diz e acaba matando o pai, comendo a mãe e furando os olhos. Por conta disso, séculos depois, surge a psicanálise que, enquanto mostra que você vai pelo mesmo caminho, lhe arranca os olhos de cara em cada consulta. Parada muito doida. Fim.
Fim.
Romeu e Julieta
William Shakespeare (425 página)
Dois adolescentes doidinhos se apaixonam, mas as famílias proíbem o namoro, as duas turmas saem na porrada, uma briga grande, muita gente se machuca. Então, um padre filho da mãe tem uma idéia idiota e os dois morrem depois de beber veneno, pensando que era sonífero.
Um poeta com insônia decide encher o saco do rei e contar-lhe uma história de marinheiros que, depois de alguns problemas (logo resolvidos por uma deusa super gente fina), ganham a maior boa vida numa ilha cheia de mulheres gostosas. Fim.
À La recherche du temps perdu
Marcel Proust (1600 páginas)
Um rapaz asmático sofre de insônia porque a mãe não lhe dá um beijinho de boa-noite. No dia seguinte (pág. 486 vol. I), come um bolo e escreve um livro. Nessa noite (pág.1344, vol.VI) tem um ataque de asma porque a namorada (ou namorado?) se recusa a dar-lhe uns beijinhos. Tudo termina num baile (vol. VII) onde estão todos muito velhinhos - e pronto. Fim.
Um rapaz não quer ir à guerra por estar apaixonado e por isso Napoleão invade Moscou. A mocinha casa-se com outro. Fim.
Madame Bovary
Gustave Flaubert (778 páginas)
Uma dona de casa mete o chifre no marido e transa com o padeiro, o leiteiro, o carteiro, o homem do boteco, o dono da mercearia e um vizinho cheio da grana. Depois entra em depressão, envenena-se e morre. Fim.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
O tal do Gopal
com sua hinduística mística
talvez fosse a vez
de singrar no teu mar
e se num átimo contíguo
redecifrasse a tua face
saberia como seria
o sabor desse labor
remoendo, compreendo
que tua ausência é presença
percebida numa ferida
que insiste em ser triste
de eloquencia e inocência
que trago nesse peito suspeito, diria:
“ó, mágoa, desagua nestes olhos rasos d'água!”
Cristóvão Júnior é neófito nas letras, escritor incauto, e atrevido deveras, envia diariamente a um jornal local seus artigos chinfrins na esperança de vê-los publicados.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
MeViTeVendo
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
ADeus
Vou pra não voltar
E onde quer que eu vá
Sei que vou sozinho.
Tão sozinho amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Desse meu caminho.
Ah, pena eu não saber
Como te contar
Que o amor foi tanto
E no entanto eu queria dizer.
Vem
Eu só sei dizer
Vem nem que seja só
Pra dizer adeus.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Bastidores
Tal música me causa frisson, possui uma apelo cheio de desvarios, algo como cura e libertação. É minha música preferida na hora de entrar debaixo do chuveiro pela manhã. Depois duma preparação prévia, envolvendo respiração e concentração aprendido com ninjas yogui, entro debaixo d'água entoando as berros tal canção com toda a profusão e delírio, a fim de driblar sua gélida temperatura.
Chico Buarque é o cantor de alma feminina por excelência! Este é um dos que deve ter um pacto secreto com a Eternidade. O que seria a “pedra de toque” para atingir o alto grau da maturidade buarquiana?
Partindo da premissa de que há vida depois dos palcos, Chico vem produzindo bastante fora deles, nos bastidores. Uma prova disso é seu novo livro, Leite derramado, sucesso de venda e de crítica (posteriormente, os leitores deste Cunhão ficarão inteirados de seu teor).
A partir das produções deste ícone da nossa cultura, tanto literária quanto musical, vou traçar aqui um paralelo no que diz respeito à vida no seu aspecto oculto, bastidoricamente falando.
Viver nos bastidores: levar uma vida discreta, sóbria e consciente, realizando um trabalho silencioso, sem ao menos ser notado e sem se perceber.
Não sei o que acontece, pois as vezes me parece que os valores são tão transitórios, porém pungentes, que nos arrastam impiedosamente com as mais anêmicas efemeridades. Somos uns tolos!
É nos bastidores da vida que a ferida é aferida, para que se possa remediá-la da forma que convém. É nos bastidores da vida que a decisão importante é tomada, que a paz é encontrada, a insegurança afastada, a sexualidade canalizada, a libertação notada. É nos bastidores da vida que as inquietações são amenizadas para a partir daí surgir um novo homem, capaz de encarar com robustez o pensamento massificado e alienado das quiméricas seduções do ego. (Narcísio acha feio o que não é espelho).
No espetáculo da vida, o que escolher: A luz e o glamour dos holofotes ou a escuridão e o anonimato dos bastidores?
O cético arrogante e altaneiro bufa ao questionar: “Como ficar na história e deixar um legado para as futuras gerações levando uma vida de bastidores medíocre e sem graça como essa?”. Deu para perceber qual é o fio condutor do atual pensamento, pérfido e cheio de vaidades, que nos leva ao precipício ao toque de caixa, numa velocidade imperceptível, que só chega ao nosso perceber quando estamos exaustos e depressivos, pois se constata que a vida nem sempre nos aplaudirá, nem sempre teremos o sucesso almejado, que os nossos cd's não estão vendendo tanto assim. E o simples imaginar de que se está em decadência e fora da Brodway faz pôr em xeque a qualidade desta vida sob o brilho opaco de flash's e holofotes, sob ilusórios confetes, plumas e paetês, sob um falso glamour e requinte que dura apenas um breve instante, aquele décimo de segundo em que o ego é massageado e a sensação de objetivo alcançado é sentido entre os dedos num brevíssimo momento.
Pena que tudo se esvai, tal como a bruma da madrugada ao despontar do sol, para o descontentamento da turba.
Sinto na alma o desejo de bastidores. Claro que nem sempre é/foi assim. É por estar nesse momento ocultado por detrás do cenário que me vem essas clarevidências para serem partilhadas com os leitores que aqui se achegarem.
Não sou inconstante nas minhas definições. Sou constante nas minhas indefinições. Prefiro assim. A inconstância é grave falha. A indefinição é virtude rara.
Artur da Távola, envolto em seu manto de lucidez e empunhando o estandarte de sobriedade, afirma que quem define são aqueles que temem continuar pensando, por parecer mais fácil.
As vezes me percebo inconstante nas minhas definições, sempre tendo definições a cada passo, acreditando nelas, vivendo em contradições. Perceber-se assim já é bater em retirada e retomar o caminho de volta. Tudo é permitido, mas nem tudo convém.
Prefiro ser constante nas minhas indefinições. Que me seja dada a constância de não se intrometer no fluxo natural da vida, permanecendo aqui onde cá estou: na obscuridão dos bastidores e na indefinição.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Da série: "Aurélia, a dicionária da lingua afiada!"
BICHO GRILO, bichus griluctus
Definição criada na década de 60 e que pegou muita força na década de 70 definindo uma pessoa com um estilo de vida coerente com o movimento hippie dos Estados Unidos. Com a decadência do movimento hippie a palavra passou a ser usada para designar uma pessoa com um estilo de vida não formal, não seguindo os padrões locais de consumo e comportamento. Geralmente indica a pessoa calma que gosta de paz e amor, usa roupas soltas do tipo artesanal e tenta imitar um estilo de vida como o de John Lennon ou dos hippies. Pode também ser usado para designar alguns tipos de maconheiros que tem um estilo de vida mais voltado para a natureza e distante da violência do tráfico e da marginalidade. Principalmente aqueles que ficam com cara de bobo o dia todo e falam bem devagar e só na gíria.
Ex: Aquele bicho grilo nojento toma banho só uma vez por semana e gasta duas horas para falar paralelepípedo.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Fugacidade ou Fuga, cidade?
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Quem me roubou de mim?
"Saudade que tenho de mim, eu levantava com o sol, a baladeira no pescoço, bolacha e água no bornal"
Quem me roubou de mim? O ladrão sorrateiro com sua sagacidade foi atrás das maiores riquezas no lugar errado. O vacilo foi buscar fora aquilo que estava dentro. Pensava ser vantagem as bijuterias que via por aí em detrimento do tesouro que se escondia no mais recôndito e inaudito lugar.
Quem me roubou de mim? Enquanto eu me “achava”, ia me perdendo. Perder-se para se achar ou achar-se para se perder? Com o coração contrito, faço esse desabafo com todos aqueles que miram os fundos de suas xícaras existenciais: Trago em minha carne as marcas das experiências vividas e na lembrança os flash dos momentos de outrora. Pego-me pensando na possibilidade de não ter escrito algumas páginas doloridas nessa minha vida de cigano errante, matutando se isso seria realmente interessante. Ora bolas, ficar pensando em possibilidades absurdas é viver em completa inanição. Pedala esse assunto.
Quem me roubou de mim? Que uma vaca banguela me morda se de ti, oh doce juventude, eu não me recordar. Lembro com saudade de como era bom o convívio com os amigos lá do Santa Fé, amigos que comungavam os mesmos ideais de retidão, santidade e compromisso; o como era bom acordar cedo e ir à missa no Carmelo; de como era bom os retiros pregados pelo Frei Adolfo; de como era bom as embates filosóficos com o Pedro; o quanto era boa a amizade da Irmã Rita; do quão bom era a presença do Francinaldo; o quão bom era o namoro santo com Dalila; do quanto era bom no tempo do Padre Jorge...
Quem me roubou de mim? Como uma rolinha fogo-pagou eu me pego a repetir incessantemente esta indagação, a espera do milagre. Ah se esse milagre viesse a se tornar realidade. Ora, não são os milagres que inclinam o realista para a fé. O verdadeiro realista, caso não creia, sempre encontrará em si a força e a capacidade para não acreditar no milagre, e se o milagre se apresenta diante dele como um fato irrefutável, é mais fácil ele descrer de seus sentidos que admitir o fato. Apesar de ser realista, prefiro deixar esta minha faceta às escondidas. O apóstolo Tomé declarou que não acreditaria sem antes ver, e quando viu disse: “Meu Senhor e meu Deus!” Terá sido o milagre que o fez acreditar? É mais provável que não, mas ele acreditou unicamente porque desejou acreditar. Parafraseando o truta do Descartes: acredito, logo existo.
Quem me roubou de mim? Existe em mim uma mágoa silenciosa e muito tolerante, que se recolhe em si mesma e se cala. Mas há também uma mágoa dolorida: esta irrompe às vezes em lágrimas e daí deságua em lamentos. Isso acontece de modo particular nas noites de domingo. No entanto, ela não é mais leve que a mágoa silenciosa. Aí os lamentos só mitigam porque irritam ainda mais o coração. Essa mágoa dispensa até o consolo, seu alimento é sentir que não pode ser mitigada. Os lamentos são apenas uma necessidade de sempre avivar a ferida.
terça-feira, 14 de julho de 2009
Condenado?
O homem está condenado à liberdade
Jostein Gaarder, autor de O Mundo de Sofia, ajuda a traçar o pensamento de Sartre como sendo existencialista por excelência, colocando o homem como ponto de partida de tudo. Ao contrário de Kierkegaard, que era cristão, Sartre representa um existencialismo ateu. Empunhando esse estandarte, ele aborda temas centrais do pensamento de Hegel e Marx, descrevendo o homem como um ser estranho no mundo, suportando uma carga de sensações de desespero, tédio e toda sorte de animosidades que provocam náuseas.
Os humanistas da época do Renascimento eram ufanes ao ostentar em tom de triunfo a liberdade e independência do homem. Sartre vem de encontro a esse pensamento, pois achava que tal liberdade era uma maldição. “O homem está condenado à liberdade”, dizia ele. Condenado porque não se criou e, não obstante, é livre. E uma vez atirado ao mundo, passa a ser responsável por tudo que faz.
Somos indivíduos livres e a nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem, para Sartre, valores ou regras eternas, a partir dos quais podemos nos guiar. E isso torna mais importante nossas decisões, nossas escolhas. Sartre chama a atenção precisamente para o fato de o homem nunca poder negar sua responsabilidade pelo que faz. Aquele que assim procede mescla-se a uma massa anônima e se transforma em parte impessoal dela. Ele foge de si mesmo e se refugia na mentira. De outra parte, a liberdade do homem nos obriga a fazer de nós mesmo alguma coisa, a ter uma existência “autêntica” ou verdadeira.
Ao contrário de Sartre, este escriba acredita que possuímos uma origem, um início: Deus.
Fazendo uma alusão ao argumento ontológico de Santo Anselmo, Deus existe necessariamente, pois é impossível pensar em um ser perfeito, e negar-lhe a existência, atributo da perfeição. Ora, se somos capazes de pensar no Ser perfeito é porque Ele existe, porque a perfeição não engloba apenas essência, mas essência e existência.
Professar uma fé e participar de uma igreja são os meios que levam as pessoas a encontrar o religare, a re-ligação, aquilo que as trás de volta à sua origem, dando-lhe respostas íntimas e existenciais. Ao contrário do que acontece costumeiramente, uma religião não pode interferir na liberdade do indivíduo, e nem levá-lo a graus de fanatismo e alienação. A religião deve ser uma ferramenta para se encontrar-se a si mesmo, pleonasticamente falando.
Thomas Merton (1915-1968), monge americano, esboça, através de uma alegoria, como seria a nossa existência sem um norte, dizendo que “se a nossa vida é dissipada em palavras inúteis, jamais ouviremos qualquer outra coisa no fundo do nosso coração, onde Cristo vive e fala em silencio. Nunca seremos nada e, no fim, ao chegar a hora de mostrarmos quem somos, apareceremos sem nada a dizer no momento da decisão crucial: haveremos dito tudo e estaremos exausto de falar antes mesmo de termos alguma coisa a dizer”. E completa: “Aqui jaz um defunto que fez da indiferença um ídolo. Sua oração em vez de inflamá-lo, apagou-lhe o coração. Seu silencio não é atento a nada, não escuta nada e nada tem a dizer. Venham as andorinhas, e façam o ninho em torno desse homem, e ensinem seus filhotes a voar no deserto que ele fez da sua alma, e assim, ele não ficará inútil para sempre."
Entre tantas correntes filosóficas e outras muitas posições ortodoxas, fazer a opção pela senda que Jesus apontou é a mais sóbria das escolhas: “A verdade vos libertará”.
Mas o que é a verdade? Pilatos com esta indagação emudeceu Jesus, não por não haver resposta, mas para deixar para todos nós a iniciativa de buscar a verdade.
Por fim, quebrando as pernas de Sartre, atesto que o homem não foi condenado e recebeu como sentença a liberdade, não. O homem ganhou a liberdade como prêmio, por ser dotado de vontade e de inteligência, para usar da maneira lícita, segundo os critérios impressos na sua alma, alma essa que tem fome e sede de sua origem, fome-sede-saudade de Deus.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Viva la vida
Numa fria manhã de sábado, um grupo de estóicos exploradores de caminhos e trilhas descem de Portalegre/RN em busca das gélidas águas da Cachoeira do Quati, situada no sopé da serra, já na zona rural de Tabuleiro Grande/RN. Sob a trilha sonora de Cold Play, empreenda com a gente nessa epopéia, conferindo as encantadoras paisagens do interior potiguar, onde a legítima vida bucólica é real, onde as divagações do agitado mundo ficam de fora, onde a reflexão acerca do paraíso na terra se torna uma clarevidência.
Sair por ai vagando por caminho nunca dantes percorrido, esperando que o sol finalmente desperte e atinja os seus breves momentos no extremo horizonte, isto num dia frio e tendendo a ficar cinzento, e ver a mais branda e brilhante luz solar desencadear-se sobre a mata verde, sobre os troncos das arvores e da vegetação rasteira, enquanto as nossas sombras alongadas se projetam no campo em direção oeste, como se fossemos os únicos obstáculos de seus raios. Tal era aquela luz que momentos antes não a poderíamos ter imaginado e a atmosfera era tão morna e serena que nada faltava para que o prado se fizesse o paraíso. Quando refleti que aquilo não era um fenômeno isolado que nunca mais se repetiria, mas que aconteceria sempre num infinito numero de manhãs, e que embalaria a mais tardia criança que lá aparecesse, o espetáculo tornou-se ainda mais glorioso, a tal luz, tão pura e brilhante, dourou a relva e as folhas ainda molhadas pela bruma da madrugada, tão suave e serenamente cintilante que imaginei nunca antes ter-me banhado em semelhante fonte de ouro, isenta de qualquer ondulação ou murmúrio.
terça-feira, 7 de julho de 2009
Deslumbramentos
Direitos Humanos com o taxista
- Sabe que queimaram um ônibus aqui na cidade?
- É? Nossa, uma cidade tão pequena...
- Sabe de quem é a culpa? Dessas pessoas que deixam todos muito livres.
- Mas quem é que está livre hoje em dia? Não percebe que estamos todos capturados pela sociedade de controle, que o panóptico já se transformou em seminóptico, que os mecanismos sociais consistem na docilização das pessoas?
- Ã?
- Pois então, é isso mesmo, estamos cristalizados em estruturas que não permitem o refluxo. A sustentação de identidades rígidas trabalha a serviço da economia de massa e as pessoas perderam espaço para reflexões. O terrorismo do Estado se man...
- Escuta, onde você vai ficar mesmo?
terça-feira, 23 de junho de 2009
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Quero voltar pra barriga da minha mãe, porque lá não tem maldade
O olhar capturado pela coisa, pela mercadoria se torna um olhar-sintoma...Um olhar Fantasma colado no semblante do objeto. O Sujeito barrado é expulso de suas conexões jogado na ordem do mais-gozar Lacaniano. Nessa trajetória errante, a subjetividade é subsumida por representações das coisas, por simulacros digitais relembrando Blade Runer de Ridley Scot. Quem é o próximo Replicante? A dobra ou os desdobramentos da alienação ótica força a linguagem do visível ocultando a visão pela hiper-visibilidade, pela saturação da imagem, pela necessidade do excesso, do monstruoso. O olhar do outro é uma representação monstruosa. Nesse sentido os afetos, os laços sociais são fragilizados numa teia de significações perversas que repõem na economia Psìquica as tensões necessárias para manter a ordem capitalista vigente.
Diante da falência de uma certa lei mínima, Eros e Tanatos brigam num jogo Kafkano, ou Bergmniano. Serpente nem sente que me envenenou num olhar Caetânico. A Música parece uma opereta que não consegue desdobrar intervalos, nem silêncios.
O fim das vanguardas, ou o fim das retaguardas evoca uma perda violenta de sentido existencial. Nessa sociedade Policial, como dizia Foucault, é preciso Vigiar e Punir.
O Louco, o Poeta, o Visionário expulsos pelo olhar Platônico trazem na potência dionísica o choro de Nietzsche!...Broduway ou Holiwood não são meras marcas... Parece que expulsaram também o Fantasma da Ópera e o encarceraram em algum lugar. A Ópera em nosso olhar vazio, cheio de desejo... O desejo resvala, exala e inala os perfumes de nosso tempo. Talvez um passeio pelo desejo possa abrir certas janelas... Talvez Afrodite seja mais que um Filme de Wood Allen.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Simbiose
Simbiose, palavra corrente nos balbuciares de geneticistas, biólogos, farmacêuticos, quando estão com aqueles vidrinhos laboratoriais, com toda sorte de soluções químicas, fazendo os mais inauditos experimentos malucos, com a recôndita pretensão de descobrir a fórmula secreta que o faça detentor do maior segredo do mundo, para que assim possa dar os primeiro passos na dominação do planeta.
Deixando as “viagens” de lado, a simbiose pode ser compreendida através do exemplo clássico das mitocôndrias. Há quem diga que elas não existam, coitadas! O fato é que essas danadas moram dentro das células eucarióticas sem pagar aluguel, numa estreita relação de dependência, onde uma não viveria sem a outra. Ora, para a mitocôndria não é só sossego não, de um lado ela tem na célula um ambiente quentinho e seguro para seu desenvolvimento, mas, em contrapartida, se responsabiliza pelo fornecimento de energia para sua hospedeira.
Quero, com toda essa baboseira, levar o leitor a matutar acerca do “quem” ou “o quê” encerra o seu ciclo simbiótico pessoal, quem/o que seria a outra metade, aquilo que mantem um laço de dependência vital, sem o qual não sobreviveria?
Chacoalhando a pitomba existencial e metafísica na boca, examinando minha relação simbiótica, acabo descobrindo muitas, milhares delas (sic), uma espécie de colcha de retalhos (patchwork) se desvela diante de mim, num turbilhão de lembranças que insiste em espancar minha face aqui e afagar acolá, levando-me a concluir que há muitas coisas que estão intimimente ligadas a mim, que não solto nem por 100 e uma fanta. Tudo isso sou eu, ou seja, eu sou minha vida, não há como ficar no singular. Passo a listar alguns insight's* del fuego:
Ventinho que sai do motor do liquidificador
Baladeira
Futebol na chuva
Roubar vela do cemitério em dia de finados
Lamber restinho da massa de bolo que fica na batedeira
Cheiro da prova rodada no extensil
Fazer aviões de papel
Pêra, uva, maçã ou salada mista combinado
Caldo de cana com pastel
Apagar vela de aniversário antes do aniversariante
Monte Sinai
Capitães de Areia, de Jorge Amado
Sonata ao luar, de Beethoven
Reconciliação na chuva
Colecionar coisas sem futuro
Padre Jorge
Vitamina de beterraba
Fogo vermelho do fogão a lenha
Relâmpagos silenciosos numa casa sem energia
Gato preto de porcelana esguio com olhos de botão
Dançar quadrilha
Mordida em jambo maduro
Ordem dos Frades Menores
Mazurka, opera 39 de Tchaikovsky
Fazer “aviãozinho” no terraço todo ensaboado
Cabelo grande, numa rebeldia sem causa aparente
CEFET-PI
Catuaba Guaracy
Percorrer uma fileiras de lençóis brancos lavados e estendidos
Virgília Pascal de 2005
Não vá embora, da Marisa Monte
Cheiro do Pinho Sol tradicional
Andar a cavalo
Ping-pong
Santas Missões Populares
Punhal prateado encontrado no quintal da vovó
Giraya, Jaspion e Changeman
Beijos recebidos no olho depois que seu Cristóvão tomava uma
Natação no clube da Cepisa
A lista de Schindler
Ascensão para a Verdade, de Thomas Merton
Ploc Monster
Noticia do Chupa-Cabra no Fantástico
E por ai vai. A vida, como a roda gigante, tem seus altos e baixos.
Partilhei os altos, os picos, os cimos, na esperança de suscitar em ti a confecção da tua própria lista.
Tudo isto ainda pulsa dentro deste incauto escriba envelhecido em barris de bálsamo. Tudo é vivo. Tudo é claro. Tudo é nítido como ontem. Não seria quem sou sem tais experiência, e estas não seria tão intensas se não acontecessem comigo.
A confluência de muitas simbioses vem desaguar em mim, trazendo lucidez e contradições, trazendo o auto-conhecimento. Todos tem suas simbioses, sejam elas objetos/lembranças/pessoas. Não concordo quando o intemperado Jean-Paul Sartre cochichava no ouvido de sua Simone dizendo que “o inferno são os outros”. Não aqueles “outros” do Lost. Falo dos nossos muitos outros, gente que entrou/saiu, mas permaneceu/permanece, presentes presente na vida.
Vida. Mais vida. Uma vida dentro de outra vida. Somos nossa vida. E quando vejo que a vida espera mais de mim, mais além, vejo que o aprendizado é o próprio fim. Há fim? Será fim? Enfim, no zigue-zaguear da vida, entre decadências e elegâncias, vou aceitando o caos nosso de cada dia.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Vendo o invisível
O que seria ver o invisível hoje? Seria ter uma clara convicção daquilo que poderá vir acontecer? Ter diante dos olhos uma realidade tão certa, tão nítida, que ainda não ocorreu, mas que trás a certeza da sua concretude?
O autor bíblico nos faz relembrar a atitude de Moisés, quando este saiu do confortável palácio do Faraó para se juntar ao seu povo, os hebreus, empreendendo um fuga cinematográfica pelo deserto, saindo do cárcere à liberdade, com direito a passar pelo Mar Vermelho sem molhar os pés. Quando uma convicção descomunal se apodera do âmago do homem, pode haver algo que o segure? Quando a certeza está diante dos olhos, há jeito que não dê jeito?
Dentre muitas certezas que temos nessa vida de meu Deus do céu, poucas nos arrastam. Somos cegos, e também preguiçosos.
Literatura, música, natureza: verdadeiros "cirineus" na percepção do invisível.
Quem não fica ofegante diante das poesias de Pablo Neruda, da prosa fácil de Quintana, das canções do Roberto Carlos? A reação de encantamento tida no contato com essas belas artes não seria tocar o invisível, metafisicamente falando? Ora, os sentidos nesse momento são os auditores da veracidade de tal fato, Schopenhauer quem o diga.
O prodigioso Jorge Vercilo, num lampejo de pura clarividência, canta:
"Eu quero ver o invisível,
prever o que está no ar.
Como previ meu futuro ao te ver passar"
"Disbuiando" em miúdos, trazendo um exemplo para a prática, é você bater o olho numa pessoa e ser acometido duma certeza avassaladora nunca d'ante sentida, é você se abrir para uma realidade onde um ciclo se fecha: É ELA! Dizem os apaixonados que sininhos se fazem ouvir nessa hora.
A cantiga verciliana prossegue:
Há como não se ver? Há como não te ver? Há como não antever? Há como não prescrever?
Diante do mistério, resta-nos ficar em silêncio. Não há conceitos, não há bê-á-bá, e nada mais a declarar!
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Sem saber o que escrever
ESCREVENDO COM OS COTOVELOS:
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ESCREVENDO COM O NARIZ:
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ESCREVENDO COM O QUEIXO:
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ESCREVENDO O PRÓPRIO NOME AVEXADO COM OS ZÓIOS FECHADOS:
Crixotvçao Juniofr
Cristovao Nunioo
Cristiovaio Nubnior
Cristovao Junior
cristova,o Jnuoor
Cristova,o Junoopr
Meu Deus, o que é isso, deixem pra lá, peço-vos perdão, trata-se de mais um momento de precipitação!
sexta-feira, 15 de maio de 2009
A poeira e a estrada
Que nem vem vem
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Mevitevendo
terça-feira, 12 de maio de 2009
Vida de Gado, por Pedro Oliveira
Lendo Os Irmãos Karamázov de autoria do mestre da literatura universal, Dostoiévski, que neste 28 de janeiro se completam 128 anos de seu silêncio, suscitou-me o desejo de partilhar alguma conclusão com quem interessar. Sem dúvida, a leitura desta obra é fundamental para a sobrevivência de quem quer se desviar da onda do “deixa a vida me levar.”
A referida produção está centrada num dilacerante conflito no seio de uma família nobre da sociedade russa por meio do qual o autor descreve o quadro de decadência dos princípios éticos e valores sociais da época (séc. xix).
O drama familiar em questão é costurado pelo tema mítico do parricídio, fenômeno provocador da sensibilidade humana, desencadeador das mais diversas reações e reflexões.
A trama tem lugar na imaginária cidade de Skotoprigonievski, um nome cuja tradução indica local em que o gado é recolhido, ou simplesmente feira de gado. Por ser uma realidade paradigmática, esta cidade assume caráter universal, está em todo lugar e seus habitantes, como gado, sobrevivem encurralados.
Parricídio, ato deplorável, ignominioso...! Assim é encarado nas mais diferentes culturas. Resultante de todo o tipo de sublevação dos valores humanos e da sociabilidade: má criação, desestruturação da família modelar, descarte da figura do pai... Eis a grave problemática enfrentada pela humanidade no mundo moderno onde tal fenômeno, detestável no plano objetivo, adquire formas aceitáveis numa dimensão subjetiva: é o que se pode classificar de parricídio social.
As transformações trazidas pela modernidade implicaram novos valores que atingiram de cheio a família tradicional desencadeando, em particular, uma crise à figura do pai.
Num mundo em que a sensualidade é absolutizada como fonte de prazer, o ser pai acaba resultando do desvario do instinto, de relacionamentos prematuros, descomprometidos, egoístas e hedonistas. Em conseqüência disso surgiu uma sociedade sem pai ou de pai ausente.
Dostoiévski ad mirando o real significado do ser pai assim pergunta: “o que é um pai, um de verdade, que palavra tão grandiosa, que idéia tão formidável há nesse nome?!” A paternidade não é apenas algo instintivo, biológico, mas é, sobretudo, expressão de livre decisão pessoal, de compromisso com a vida. Ser pai implica presença conseqüente.
A falta da figura do pai desestrutura, debilita, fragiliza os filhos; gera desequilíbrio da formação pessoal, delinqüência, uma vez que o pai é a personificação simbólica das atitudes necessárias para a afirmação do indivíduo como pessoa e como ser social.
Na ausência do pai a missão que antes lhe era imputada, agora é delegada ao Estado que através de seus instrumentos de repressão, disciplina, ordena e conduz a vida social tal qual o criador à frente de seu rebanho. “Ê, vida de gado...”
Quem sabe seja por isso que o nosso Machado de Assis, contemporâneo de Dostoiévski, tenha dito através de um personagem de sua criação literária o que sentia por não ter sido pai. Assim, Brás Cubas nas próprias Memórias Póstumas, exprima sua vitória sobre a vida ao afirmar: “– Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
Pedro Oliveira da Silva é Professor de História na Rede Municipal de Ensino de Teresina/PI
sábado, 9 de maio de 2009
Versos íntimos - Augusto dos Anjos
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!